UM MUNDO SEM SOFRIMENTO*

UM MUNDO SEM SOFRIMENTO
Por Paulo Rebelo

Alguém conceberia
O mundo sem dor?

É impensável!

Sua ausência seria logo sentida,
Como a falta de gosto na bebida,
A noite no amanhecer sem o dia,
A falta de tempero na comida,
Luz sem sombra,
A falta de sal percebida,
A dor sem ferida.

Pois, parece que o sofrimento
É inerente ao homem.
É o outro lado da moeda,
A face oculta da lua,
Quando some
Dá lugar a alegria
E esta quando finda,
Sobrevem a melancolia.

Então, qual o sentido
Viver sem dor?
Tristeza e alegria são amantes!
A alma se alimenta de ambos
É como o início e o fim do dia,
E por isso, ela regozija-se,
Eis que assim é o ciclo da vida;
Ela, sem dor,
É insípida.
Pois, sem odor, cor ou calor,
Torna-se a existência opaca,
Morna e fria.

Ao final,
Sem sofrimento não haveria
Lágrimas,
Doces nem compungentes,
E não tendo mais assunto,
O maior dos poetas, sem lamento, nunca mais
Sua poesia escreveria
E o grande filósofo num canto triste,
Sem voz,
Para sempre se calaria,
Por fim, ambos morreriam.

Paulo Rebelo, o médico-poeta.

Imagem: O MITO DA CAVERNA DE PLATÃO

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