UM CASO CLÍNICO DIFÍCIL*
A idosa internou por infecção urinária e diabetes.
Logo a infecção foi debelada,
mas o diabetes continuou fora de controle.
Curiosamente,
a glicemia ficava controlada durante o dia, em seguida, para descontrolar à noite e pela madrugada.
Algo não batia. Era uma incógnita.
Aprofundou a anamnese,
uma forma essencial de “inquérito” médico.
A relação entre a matriarca e as filhas era aparentemente normal,
porém dado à personalidade da paciente, estava mais para medo de contrariá-la do que respeito;
eram mais submissas bem além de atenciosas e carinhosas.
O “casamento ” entre familiares e o médico já se desgastava pelo caso clínico difícil e cobrança mútua que faziam. Mas, o médico se matinha firme nas suas convicções e as mulheres evitavam o contato olho no olho com ele.
O mistério continuava até que uma das filhas, indignada com a cumplicidade das demais, disse: “o senhor não tem culpa de nada. Venha aqui à noite”. “Ué, mas eu venho na revisita no fim de tarde e parece estranho que piore depois disso”, disse o médico. “Bem, não posso dizer mais nada. Venha, por favor!”.
A mulher era uma “informante”; era “dedo duro” e ele não era mais médico; era detetive particular.
Aguardou que visitas e as demais filhas se despedissem da matriarca.
TOC TOC TOC. “Boa noite! Com licença, posso entrar, dona Francisca?
O médico tomou um susto quando viu com com os seus próprios olhos o que parecia ser um “crime”.
Acalmou-se. Sentou-se e puxou conversa. Não tinha como se aborrecer senão rir e muito. A velha senhora era uma pessoa simples, educada e sobretudo, doce, contrariando as suas impressões iniciais.
Ela estava com fome mesmo e comia com vontade.
“Ah, doutor, me desculpe, nem lhe ofereci. Pegue aí uma tigela pro doutor, minha netinha!”
Em tempo, o cardápio daquela noite era:
AÇAÍ-FARINHA de TAPIOCA e CAMARÃO FRESCO, servido à vontade.
🤣🤣🤣
Paulo Rebelo, o escrevente do tempo.