SOLIDÃO*

SOLIDÃO
Por Paulo Rebelo

A noite passada
A insônia carregando
A solidão
Mais uma vez
Marcaram um encontro
Sorrateiro dentro de meu coração,
Que batia aflito.

Não há quem as demova desse estranho hábito noturno.

Ocorre há anos
E lá se vai o sono
De novo e sempre
Às 4 da manhã,
E com isso, frequentemente,
Meus pensamentos voam
Para um passado,
Que não volta mais.

Antes muito me incomodavam
Seus passos pela casa,
O burburinho,
Invadindo minha cama
Hoje, não mais.

Eu entendo sua ronda
Me espreitando;
Querem conversar comigo.

Desde então,
Acostumei-me
Como o silêncio das entrelinhas,
Fazendo-me buscar adivinhar
O que querem saber
E é sempre sobre meus desejos,
Invadindo minha intimidade,
Como se eu
Tivesse ainda algo
A esconder,
Pois falam de mim,
Mas é inescrutável,
Pois nem eu sei onde mais
Escondi meus medos
Como o que sinto agora
No meio do vazio noite escura,
Repleta de solilóquios.

Então, vão caminhando juntas
Lado a lado,
Confabulando madrugada
Adentro,
Enquanto a solidão
Me consola
Até sumirem completamente,
Mais uma vez,
Deixando-me refém
De meus pensamentos.

Assim, volto a buscar o sono,
Que belisca levemente meus olhos,
Tendo a sensação,
Que elas tentaram invadir
O meu inconsciente,
Enquanto, desprotegido,
Eu ainda dormia.

Então, adormeci

Amanhã, certamente,
Tentarão de novo…

Paulo Rebelo, médico-poeta

Nota: inspirado na bela canção de “SOLIDÃO” de Alceu Valença.
Imagem: obra “A Noite Estrelada”, de Vincent Van Gogh.

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