PARA DEPOIS*
PARA DEPOIS
Por Paulo Rebelo
Vim ao mundo
Depois que ele estava feito
Mas não estava concluido.
Estava mal acabado,
Reclamei!
Tinha muitos defeitos.
Apressado,
Achei que pudesse refazê-lo e,
Inicialmente, pus-me a trabalhar
Como poucos às cegas,
E não conseguindo,
Gritei em praça pública
Que nem louco,
Até ficar rouco.
Fui deixando tudo p depois:
Era mais conveniente
E sensato,
Depois que dormisse,
Depois que acordasse,
Que comesse
E descansado,
Pensasse…
Não tive mais pressa
Para nada;
Nem mais filosofava.
Deitado na rede,
Procrastinava.
Agora tudo fazia sentido;
A vontade findou;
O sonho passou depressa;
Nada mais interessa;
O mundo não mudou.
O filme acabou…
Paulo Rebelo, o médico escritor da Linha do Equador.
Inspirado em DEPOIS? de Antonio Lobo Antunes, médico e escritor.
Estátua: O PENSADOR de Rodin.