OS LOUCOS*
Acadêmicos e intelectuais da área de ciências humanas tendem romantizar a dor alheia, sobretudo, os incompreendidos, os deslocados socialmente, glorificando seus gênios e mártires iluminados, pois segundo eles, estes estabelecem novos padrões de comportamento, quebrando dogmas, estabelecendo novos paradigmas para a humanidade.
Apenas o cônjuge e filhos ou pessoas próximas sabem e vivem diariamente o drama de conviver com portadores de transtornos mentais, que vivem no caos cerebral; ao lado de explosões de inteligência criativa, são indivíduos autodestrutivos, deixando um enorme rastro de infertilidade amorosa ao seu redor.
Aliás, Freud, há mais de 100 anos escreveu que a psicanálise só pôde se desenvolver, a partir da observação dessas pessoas, por terem transposto o campo do pensamento convencional, indo a um universo desconhecido da mente humana, portanto “agradecia” aos atores, escritores, músicos, cantores, compositores, pintores, escultores, aventureiros e etc. Aqui entre nós, esse padrão é reconhecido em Raul Seixas, Cazuza, Cassia Eller, Renato Russo, Belchior e outros; uma “metamorfose ambulante”. A admiração, segundo a psiquiatria, ocorre pelo mecanismo de projeção; por serem aquilo que gostaríamos de ser e não temos coragem ou “competência” para sê-lo. Esses indivíduos, pelo bem e pelo mal da humanidade, se sacrificaram e foram sacrificados.
Paulo Rebelo, médico.