O VERDADEIRO POETA E EU*
O VERDADEIRO POETA e EU
Por Paulo Rebelo
(O texto em prosa é um relato reflexivo sobre a minha modesta condição de escritor)
“Ao longo de minha parca, mas intensa existência como médico, seguramente, já atendi milhares de seres humanos. A cada vez que os trato, eu me curo”.
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Assim, algo me entristece na minha singela vida de escritor, pois como observador privilegiado que sou, sendo médico, valho-me da relação médico-paciente para escrever despretensiosamente meus textos. Quem nesse mundo tem a oportunidade de estar vis-a-vis como outro ser humano e desnudar-lhe o corpo e alma, interpretando e traduzindo suas dores, fielmente? Entretanto, seria muita presunção de minha parte me identificar como “poeta” e sim, alguém que escreve.
Até aí tudo bem, todavia, por incrível que pareça, gostaria de ser melhor recebido no meio literário popular. O mundo acadêmico é algo distante. Isso não é neurose de perseguição, creia-me. Sigo sendo um “poeta solitário”. Digo aos meus amigos e familiares, que gostaria de ser reconhecido como escritor ainda em vida, Mas como se sequer leem meus textos? Brincando, digo-lhes que desse jeito, nem no POST MORTEM! Explico melhor.
Ocorre que, ao postar despretensiosamente meus textos poéticos escritos, a partir dessa relação subjetiva nas páginas populares e virtuais de literatura, que existem na internet, alguns de seus membros, sabedores de quem se trata, infelizmente, olham-me de soslaio; uns tratam-me com indiferença, outros com certa animosidade e até confrontamento como se eu fosse um “outsider”, um estranho no ninho, pois segundo estes, claramente, não reuniria conhecimento literário para estar sequer à altura dessas páginas, inclusive, pasmem, mandam-me “estudar mais”
Digo-lhes que não sou um poeta profissional, mas apenas um curioso “tecelão das palavras”. Não lhes basta; soa demagogia.
Quando é possível ponderar, digo-lhes brincando, que “meu propósito não é obter uma cadeira na Academia Brasileira de Letras, mas conseguir um leito hospitalar para meu paciente”. Piora mais ainda; soa-lhes ar blasé ou de superioridade, atingido seus brios literários.
Outro momento escreverei mais sobre a condição do escritor nato ou poeta, o porquê tenho a impressão que são vaidosos; o único que pode descrever o amor, a dor e a natureza com maestria: LEDO ENGANO. Não é o meu caso e creia-me, não é meu desejo; jamais foi meu desejo ser escritor profissional. Nunca estudei literatura, senão no colégio. Como “escritor”, vivo entre dois mundos: a abstração do poeta e o pragmatismo da ciência. A vantagem que teria sobre o poeta é que acolho os sinais e sintomas do homem a ser tratado, e busco interpretá-los e descrevê-los; a maioria dos poetas param por aí, fazendo profundas reflexões criativas, porém abstratas, dado-lhes sentido poético. Diferentemente deles, além de tudo isso, reflexões já iniciadas a partir da anamnese, eu intevenho em no binomio saúde doença, solicitando exames, passando-lhe “remédios”. Posso mudar o seu destino. Então, veja o poder que cega, se eu o médico não tiver cuidado. Alguns médicos, com ego inflado, acabam sentindo-se SEMI-DEUSES.
Acontece que o sofrimento alheio me é altamente contagioso, e eu para me proteger escrevo; a escrita funciona para mim como uma catarse ou como providencial e poderoso antído para a dor alheia e, porque não a minha própria.
Um paraefeito danoso da medicina sobre o médico é que alguns se acha O TODO PODEROSO. Não é meu caso; falo para clientela, brincando, que eu seria o ORÁCULO DE DELFOS, onde o viajante de lugar distante vem em busca de respostas para sua pobre condição humana e destino: A CURA. Sem proselitismo ou vaidade, o que nos distingue, digo os grandes poetas e eu, é que estes invariavelmente descrevem o que veem no ser humano e natureza, eu, o que sinto profundamente nele, “enquanto eviscero o seu corpo e alma”.
Na minha lápide, gostaria de lá estar escrito:
“AQUI JAZ UM MÉDICO QUE ESCREVIA”.
Paulo Rebelo, médico que gosta das palavras.
P.S. Acabei me delongando, inspirado por elogios que recebo por escrever. Não vivo da literatura, aliás, não sou um estudioso nela. Sou um arguto observador dos tempos e do ser humano. Como médico, gostaria de ser lembrado como “o médico de corpo a almas”.
Agora, claro, se puder deixar um legado por escrito, eu o farei no tempo certo.
Um forte abraço fraternal, meu amigo
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