O PSICANALISTA*

O PSICANALISTA

Amigo-A,

a partir do momento em que, como médico, passei a lidar intensamente como o sofrimento alheio, a verdade é encontrei uma forma para amenizá-lo em mim e no outro, ou vê-lo de uma outra diferente, quando em busca de compreender esse fenômeno, “brinco” seriamente de fazer poemas e poesias, para dar-lhe uma dimensão mais humana.

Ao longo de décadas, como observador privilegiado, tenho assistido muitos dramas psico-físico-orgânico-sociais de meus pacientes e familiares, comuns a todos que sofrem, e assim busco sentir e traduzir a dor humana em toda a sua intensidade e nuances (pelo menos, tento), tendo como ponto de partida as minha próprias experiências e, como escritor, as dramatizo, dando forte sentido poético-existencialista.

No fundo, a arte literária contribui para dar conotação e valor pessoais à minha obra sobre todo ser humano que padece pela dor, às vezes, inefável. Cabe a mim, atrevidamente, descrevê-la poeticamente, e claro, há embutido aí nos meus textos a minha própria dor, que não a escondo, pelo contrário, o que me faz tão próximo do leitor, sendo visto o homem muito além do médico, que acaba se identificando com aquele e vice-versa.

Assim, há uma intensa troca de sentimentos entre nós; nós nos entendemos, autor e leitor.

Aquele que me lê, sem se dar conta, acaba se tornando o meu psicanalista, também.

Paulo Rebelo, o médico poeta.

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