O MULTIBILIONÁRIO*
O MULTIBILIONÁRIO
Por Paulo Rebelo
Acordei multibilionário! Não imagines que eu esteja delirando ou alucinando, que eu realmente esteja deitado sob rios de dinheiro ou que minhas ações tenham valorizado 1000% nas bolsas de valores pelo mundo afora.
Sim, estou multibilionário e muito mais que isso, mas não como desejaria a maioria dos homens e que poderiam me invejar e até me matar por isso, seduzidos pelo amarelo do ouro, pela pureza translúcida dos diamantes, pelo verde das esmeraldas ou o azul turquesa da safira; todos encegueirados e afoitos para possuir bens materiais desse mundo; ter tudo e todos a seus pés.
Minha fortuna é outra natureza! Não preciso guardá-la num cofre a sete chaves. Não preciso escondê-la debaixo da cama, tampouco enterrá-la em algum lugar no campo, onde poderiam desconfiar que lá estivessem um pote de moedas de ouro no fim do arco-íris, imaginando eles que eu, ao morrer, iria levá-lo para a minha tumba abaixo de uma gigantesca pirâmide egípcia, repleta de labirintos sem saída, como que demonstrando a todos e para a eternidade, que eu fora o mais rico dos homens na face da terra.
Não, não é nada disso. Não temo ser saqueado! Pois, não preciso colocar minha fortuna em nome de laranjas, não preciso de escolta policial nem de carros fortes, tampouco de guarda-costas! Nem preciso andar armado! Nem colete à prova de balas tenho eu. Meu carro não é blindado. Não tenho medo de ser sequestrado!
Minha riqueza é outra! É de outra dimensão, do tamanho divino. É do tipo que anúncio a todos com imensa alegria, exponho em praça pública e em cartazes nas avenidas. Grito pelo ALTO FALANTE! Porquanto, é do tipo que não omito nem um só instante de minha felicidade, que extravasa pela minha pele, que explode em meu peito. Impossível de ser contida! O meu estado de espírito, a minha completude aberta para o mundo, não guardada em bancos nem em museus, como se fora algo raro. Só é minha. É intransferível, inegociável, inalienável. Impossível de ser furtada!
E quanto mais eu falo de minha alegria, mais afortunado resto, daquela fortuna inestimável, que construí ao lado da mulher, ela que um dia sob as bênçãos de DEUS elegi para ser minha, o berço e criadouro do maior tesouro que guardo profundamente em meu coração:
A FAMÍLIA!
Paulo Rebelo, o médico poeta.