O MORADOR DE RUA*
O MORADOR DE RUA*
Andando pelo viaduto como um flâneur,
próximo do Bairro da Liberdade em SP,
meu coração apertou com a imagem de um homem ao longe,
morador de rua,
na casa dos quarenta,
mas que parecia ter mais,
vestido de trapos, barbudo,
cabelo em desalinho, sob o forte sol das 11 horas da manhã,
deitado na calçada,
coberto com um lençol imundo e rasgado.
Aproximei-me,
estava inerte.
Parei diante dele que dormia profundamente e o chamei alto: “MOÇO?! MOÇO?!”
Despertou.
Olhando para cima,
buscou-me com os olhos que deram com o clarão do sol e como não conseguia me
ver,
procurou a minha sombra.
Aqueles olhos negros, profundos…
O olhar não era de pedinte,
mas era de uma resignação atroz que me deixou profundamente perturbado com a
impressão de que tivera visto a figura de CRISTO naquele homem para que ELE me
lembrasse da condição humana.
Parei por um momento. Estranhamente, refleti olhando para dentro de mim mesmo. Subitamente, um enorme vazio se preenchia lentamente de esperança e alegria.
Antes que dissesse algo, apressou-se em dizer que estava bem,
como que para dizer que eu não tivesse receio, não me preocupasse com ele ou mesmo derramasse uma lágrima. Apenas que tivesse compaixão e piedade e acreditasse na misericórdia divina e o perdão. Educado, sentou-se para me dar alguma atenção. Disse algo que não entendi. Buscou alguma coisa para comer entre restos de alimentos que tinha. Sofri.
Imaginei: “tem fome. Há quanto tempo será que não come? Há quanto tempo…”.
Estendi-lhe algum dinheiro o suficiente para que fizesse uma refeição que lhe fosse digna.
Agradeceu-me duas vezes, enquanto apertava minha mão.
Caminhei adiante sem olhar para trás, pensando ter escutado do alto em meio ao pesado trânsito, o chamado de “DESPERTAI-VOS!”.
Paulo Rebelo, o escrevente do tempo.
Triste realidade de todo país…
Quem não se incomoda de existirem pessoas nessas condições de vida, nessa realidade… é profunda falta de empatia
Verdade!