O Meu Primeiro Amor*
O Meu Primeiro Amor
Crônica de Paulo Rebelo
Não lembro muito bem quando passei a gostar mais de uma mulher do que de uma bola de futebol e brinquedos.
Devia ter uns oito, nove ou dez anos de idade, não sei ao certo.
E, quando falo de uma mulher, não é de mulher feita, voluptuosa e cheia de curvas; não! Falo de uma pré adolescente ainda meio inocente, que me olhava de uma maneira diferente de meus amiguinhos de turma.
Vi nela uma clara distinção entre meninos e meninas. A maior delas é que meninas eram mais delicadas e sensíveis, mas ao mesmo tempo, eram mais “maduras”.
Ainda lembro bem, mesmo que a imagem esteja tão distante como se eu estivesse semiconsciente, sob efeito de algum hipnótico.
Ela era mais alta do que eu, morena clara, cabelos castanhos e longos no meio das costas e bela. Ah! Como era bela. Chamava-se Jandira.
Não me recordo de nada do que ela tenha me dito um dia, apenas que me tratava bem, mas me lembro vividamente de ela ter pego minha mão esquerda e ter me arrastado para um canto do pátio de sua casa, em que parece que ninguém nos via e ela ter me beijado uma, duas ou três vezes. Eu nada senti fisicamente, fora o espanto e que gostei muito daquilo, mas sinto até hoje a textura e a doçura de seus lábios úmidos e depois disso, algo mudou em minha vida.
Eu creio que já esperava por isso, talvez, já o desejava, mas se não fosse por ela, jamais teria tido a coragem de fazer o que ela fez e eu lhe agradeço por isso.
A partir daí, de uma forma estranha, para mim, todas as meninas passaram a ser mulheres feitas e passei a repará-las na sutileza de seus detalhes e sua beleza, na singularidade de cada uma delas, como a de Jandira.
Paulo Rebelo, o médico escritor.