LORDE CABOCLO*

O LORDE INGLÊS AMAZÔNICO

Prosa de Paulo Rebelo

Acontece que nunca adiantou esconder; tornei-me médico e ascendi a “upper class”. De Santarém, andei pelo mundo, visitei Manhatan, a Cidade-Luz, o Vaticano e o L’ Hermitage, bebi vinho Bourbon Pinot Noir em Provence, comi escargot e rã na Côte d’Azur, arrisquei-me no francês, fiquei com ares de Lorde inglês bon-vivant, mas a boca… esta nunca deixou de ser roxa de açaí; minha alma cabocla resiste. Jamais fiquei de nariz empinado, ainda que tentasse, pois o bico denunciava o mais puro sangue Cuiú-Cuiú.

É na simplicidade, na cordialidade paraurara, no abraço fraternal do compadrio, no bocejo escancarado, morto de preguiça, o caiçara esticado na rede durante a sesta, com o bucho cheio de maniçoba e camarão, que conhecidos meus dizem: “esse cara é um caboclo Pai d’ Égua!”

Ao conviver com a nata sociopolítico-econômica belenense, cuja inspiração eurocêntrica no início do século XIX nos fez bairrista, parecendo ter o rei na barriga (diziam os maldosos que muitos não tinham nem no “c* que periquito roa”), sem querer, é claro, influenciado pelo meio, a gente acaba incorporando o ar da clássica fina estampa burguesa, porém meus compadres, só para me atazanar, dirão rindo que sim; sou um legítimo paraense papa chibé, que só quer ser, cheio de pabulagem, mas que esse Mocorongo nascido às margens do Tapajós é um “burguês caboclo”, filho do sincretismo entre sagrado e o profano, do clássico ao popular, de sabor agridoce, gente boa e que na hora H sempre esteve pronto para lhes ajudar, nem que seja para jogar uma boa conversa fora, meu compadre.

😂

Teu amigo, Paulo Roberto Campbell Rebelo.

P.S. O texto é uma homenagem ao grande cantor, compositor e poeta brasileiro Osmar Junior Gonçalves de Castro.

Leave a Reply

Deixe o seu Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *