O FUNERAL*
O FUNERAL
Por Paulo Rebelo
Já perdi a conta
De quantas vezes participei de exéquias,
Inclusive, de minhas próprias.
Tantas incontáveis vezes,
Já chorei pelos mortos,
Carregando o féretro,
Quando, no fundo,
Também, pranteava por mim,
Dado meus infortúnios.
Sem perceber,
Fui morrendo aos poucos
Não só dentro de mim mesmo
Mas, nos corações dos outros,
No dia a dia,
Ao longos dos anos.
Nunca me dera conta
De que morria a cada momento
Por meus enganos.
Falecia e de alguma forma
Renascia inerte,
Esquecido por aquele
Que eu dizia amar
E ser amado.
Assim, naquele caixão,
Lá estava eu,
Pelo menos parte de mim,
Morto aos poucos,
Restando ainda um pouco
Para resgatar entre os homens,
O amor sumido,
Desaparecido em algum lugar,
Então, que eu possa recuperar
O Tempo perdido.
Paulo Rebelo, o escrevente do tempo.