O CIGARRO*

O CIGARRO

A primeira vez que vi de perto um cigarro acesso eu tinha 8 anos de idade e achei a coisa mais bonita.
Aquela brasa que acendia quando ele tragava.
Aquele cheiro amadeirado do humo
recendendo na varanda de onde se dissipava no ar.
Fumar era chic naquela época.

Curioso, postei-me ao lado de meu tio William Campbell, 35 anos, professor de inglês, um homem esguio, de voz grave e pausada e enquanto ele conversava animadamente com minha mãe e bebericava seu cafezinho preparado na hora por ela, eu prestava atenção na sua postura, comportamento, modos e gestos de lorde inglês.

Incautos, foi só ambos se distraírem que eu “filei” dois cigarros de seu maço HILTON e fui correndo mostrar a “curiosidade” para os meus amiguinhos.

A coisa estava tão boa enquanto fumávamos que só percebi que minha mãe estava na minha frente quando levei uma bofetada na boca, espalhando o cigarro para longe.

A garotada sumiu de repente e eu ali humilhado nada falei, pois poderia apanhar mais. Ela só disse: “passa já para dentro de casa, seu menino travesso!” Não entendi o porquê meu tio sorria.

Amigo, foi um santo remédio. Desde então, graças à minha mãe, não fumei mais, mas acredite: sinto até hoje a minha boca arder como se tivesse acabado de levar um tapa seu na minha fuça.

(um futuro fumante a menos na face da terra).

Paulo Rebelo, o médico poeta.

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