O CAGA-ORDENS*
O CAGA-ORDENS
Por Paulo Rebelo
Olha, amigo, eu tenho trauma do “caga-ordens”. É um trauma de infância. Meu querido pai (que Deus o tenha) era um deles, todavia a ação dele era restrita ao lar e sem sequelas. O pior carga-ordens mesmo é o oficial, aquele age em nome do estado, quando este pode revelar-se um homem autoritário. Um exemplo disso é o magistrado, que emite ordens judiciais de para serem cumpridas dentro 24 horas e sob ameaça, e em tempos de “democracia relativa”, o Brasil está tomado por eles. Sobre isso falarei adiante.
Bem, voltando ao meu pai. Homem nascido na década de 20, era o tipo do marido que dizia “mulher minha a não trabalha fora!”. Sujeito trabalhador, honesto e mão aberta, mas tinha esse grave defeito: autoritário.
Ele era prático do Rio Amazonas. Desde criança eu me acostumei com suas longas ausências. Eu era uma espécie de “office-boy” ou estafeta; me via obrigado, por necessidade da casa, a fazer a feira no CEASA para levar hortifrutigranjeiros para o lar, ir à padaria comprar o pão francês fresco e 1/4 de manteiga, ir ao banco pagar uma conta de água e luz, passar cera e escovão no chão da casa (não tinhamos enceraderira) e etc. Na marra, como 13 anos eu era o homenzinho da casa. Curiosamente, com o tempo eu gostava de fazer isso; ajudava minha mãe. Ela cuidava do lar com esmero, mas todos sabemos; a mulher de ontem, hoje e sempre é escrava. Para ela, por mais que tente o trabalho nunca acaba. Pois bem, meu pai quando voltava de viagem sempre se queixava que “a casa estava uma bagunça”. Pudera, sozinha e com quatro filhos pequenos para cuidar, a casa não poderia ser um brinco. Aí então, era hilário; minha mãe dizia baixinho: “lá vem de novo o “carga-ordens!” O fato é que nós depois de adolescentes não o levávamos a sério. A mesma imagem se aplica aos magistrados, mas com séria ressalva: alguns se utilizam do cargo para impor terror, revelando sua sandice e sanha. Matéria, inicialmente, para psicanálise. A maioria de nós cidadãos é respeitadora da Constituição Federal de 1988, mas o povo, diante de tantos mandos e desmandos dos magistrados “comunistas” do STF, TSE e STJ, partidários de Lula em tempos de “Tentativa de Golpe de Estado” no dia 08.01.2022, os vê com enorme desconfiança e sem credibilidade.
“Decisão judicial se discute, mas se cumpre!” (depois pode-se recorrer).
A frase é antológica, mas atualmente tornou-se clichê no Brasil, sobretudo, após a maior corte de justiça, o STF, tornar-se aparelhada pelo PT. Ela tem um viés autoritário e passou a ser legitimamente questionada pela sociedade, buscando lembrar ao juiz qual é o seu papel: ser justo e imparcial. Não é o que se vê no noticiário nacional. Alguns são midiáticos como Gilmar, Mendes, Barroso, Flávio Dino e Benedito Gonçalves manifestando-se juridicamente fora dos autos em favor de seu político predileto. São deles as frases: “o STF foi o grande responsável por eleger Lula”, “perdeu, mané!” e “nós derrotamos o Bolsonarismo”, “serial killer” e “o próprio demônio” e por último, “Missão dada, missão cumprida”, respectivamente.
O único porto seguro que tínhamos era a JUSTIÇA e hoje, o cidadão sente-se ameaçado, sujeito ao Novo Marco Civil da Internet por “crime de opinião”, podendo tornar-se réu por “ameaça à democracia”. O RULE OF LAW (Estado Democrático de Direito) foi destruído pelo próprio STF.
A falta de respeito é confiança na Justiça Brasileira já não é de agora, porém acabou de vez. “A pior ditadura é a ditadura do Poder Judiciário. Contra ela, não há a quem recorrer”, já dizia Rui Barbosa. E a sapiência popular não fica atrás quando pelas ruas diz:
“nunca se sabe o que sai da cabeça do judiciário” refletindo a desconfiança pública em relação à imprevisibilidade e complexidade das decisões judiciais, impregnada de parcialidades e juízos pesdoais de valo. Traduz a falta de clareza e ambiguidades de juízes chegam a certas decisões, contrastando com o ideal de um sistema jurídico transparente e justo.
Assim guardadas as devidas proporções, o autoritarismo de meu pai Evandro, vulgo CUIÚ-CUIÚ, fruto de uma época quando imperava o machismo, nem se compara com o magistrado autoritário que assistimos na GLOBO, o verdadeiro caga-ordens como se vê em Alexandre de Moraes, pasme, endesusado por parte da população brasileira eleitora de Lula. O meu velho pai, que mal sabia ler e escrever não era pedante, demagogo e falastrão, e não mandava prender inocentes, chamando-os de “golpistas” e “terroristas”, antecipadamente, os condenando.
Paulo Rebelo, médico escritor e poeta.