O CAFÉ*

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O CAFÉ

A mulher ansiosa,
tensa e nervosa
que vivia apreensiva
e chorosa,
outrora linda,
vistosa,
ao lado o homem,
no passado o grande amor de sua vida,
seu único amante,
agora dupla face,
distante,
uma ferida aberta,
vida incerta,
sua sina,
que descobriu um dia,
tornara-se ele absoluto
e desacertado,
impaciente,
perturbado,
a rotina.

Acoçava,
assodando os filhos,
como um mau rei maltratando súditos,
pirilampados apagados.
sem brilho,
árvores sem viço,
desnorteados,
que entristecia a mulher,
que andava no escuro
quase sem rumo,
que perdeu a fé no amor,
só dor,
sem calor humano,
havia frio,
apenas desesperança
temor.

Amanheceu…
Os dias era sempre assim tão iguais, assustadoramente mudos.

o café preto incolor,
inodoro,
sem sabor,
apenas dor.

Paulo Rebelo, o médico poeta.

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