O BARCO DA PAZ*

O Barco da Paz

Há muitos anos meus pais e eu fizemos um gran tour pela Europa.

Fazíamos parte de um grupo bem heterogêneo de aproximadamente quarenta e cinco pessoas, entre casais de idosos e adultos jovens e de meia idade e uma turma de adolescentes, seus filhos.

Por vários motivos, o grupo não interagia entre si.

Já havíamos cumprido mais de 2/3 do roteiro e apesar de tudo nada de interessante entre nós ocorria. Tudo parecia bem formal e sem graça.

Num domingo de uma bela tarde de verão, enfadonhado, saí para caminhar ao longo das margens do lago de Lucerna, na Suiça.

Como em qualquer lugar, a cidade estava “morta”. Caminhei muito até avistar um belo barco de passeio turístico que fazia o percurso do lago de Lucerna.

Pensei em fazer o passeio sozinho ou com meus pais, mas logo pensei no grupo. E se eu estendesse o convite a todos quem sabe se o grupo finalmente não interagisse?

Fui informado que o preço do passeio, com jantar incluído, caia à medida que o grupo aumentasse.

Eram cinco horas da tarde. Corri de volta p o hotel. A maioria do grupo estava “triste” nas dependências externas sem fazer absolutamente nada. Passei a todos a informação e quase a totalidade das pessoas aceitou fazer o tour de barco.

Pessoalmente, adquiri o bilhete de viagem de todos. Com isso, consegui um bom desconto. Sobrou dinheiro. Guardei com aceitação de todos p uma outra ocasião.

Desnecessário dizer-lhes o quão belo foi o passeio em todos os sentidos. Pela primeira vez, o grupo reunia assim descontraidamente. O vinho era servido à vontade. Os convidados soltaram a língua. As piadas e os “causos” foram surgindo, as más impressões e malentendidos entre uns e outros foram se desfazendo, tudo ao som de música brasileira (sim, ordem do capitão do barco!) e emoldurado pela belíssima imagem do lago, cujo o sol da estação demorou a se por no horizonte e pode-se admirar toda a grandeza do lago ladeado por montanhas.

Voltamos às 23:00.

No dia seguinte, só se falava nisso. O grupo era outro: alegre e solto.

O guia sempre solicito, mas sem iniciativa nenhuma se sentiu “deslocado” e “desnecessário”. Ficou esquisito assim até perceber que precisava mudar. E conseguiu.

Sabe aquele dinheiro que sobrou?

Em Londres, pudemos fazer um belo jantar de despedida quando houve discursos e choros de todos.

Aí eu pensei: eu acho que eu poderia ser guia turístico nas horas vagas.

Paulo Rebelo, o médico poeta.

2 Responses

  1. Arnaldo Rabelo disse:

    Gostei dos aspectos que envolvem interação, perspectiva de mudança interpessoal e honestidade. Parabéns!

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