MEDO DO FUTURO*(TEXTO FINAL)

MEDO DO FUTURO

Por Paulo Rebelo

Às vezes, tenho muito medo do futuro. É um pouco imaginário. Não é sobre o aquecimento global e suas graves consequencias para toda humanidade nem do ocaso moral da sociedade. Não é um medo, quase pavor, como na chegada do apocalipse, daquele tipo que paraliza a gente, pensando que pode morrer a qualquer instante ou adoecer e ficar incapacitado, pois já seria patológico. É algo mais pessoal e abstrato; falo de um “medinho bobo” interior, súbito, desses cotidianos e inconscientemente, que ocorrem com qualquer um, quando do nada me torno aflito por descobrir num susto estar atrasado para um compromisso ou mais sério ainda, lembrar-me de ser incapaz de realizar algo importante, principalmente, se for de meu interesse ou benéfico para alguém com o qual me importo muito, e não poder cumprir nem ajudar. Pareço não ter palavra nem comigo mesmo, escancarando o meu lado B, que com receio escondo (dizem por aí que todos o têm; quem não o esconde que atire a primeira pedra!). É uma espécie de impotência e frustração cumulativas, que as vou empurrando com a barriga até explodir no tal medo, que me faz recordar da finitude da vida e mesmo cansado a ponto de desistir, da necessidade de continuar na luta. Preciso mudar! Advém na hora o peito apertado, pequeno e preso, uma dispneia e palpitações; a cabeça rodopia e o pensamento congela nessas tolas e frustas ideias. Dá um nó seco na garganta. Se não fosse médico, trataria de procurar um por pensar que estivesse tendo um AVC ou um infarto agudo do miocárdio. Recomposta a respiração, acontece o sentimento ou estranha sensação, que traz à tona as minhas muitas dúvidas somadas e jamais respondidas, dívidas acumuladas e pendentes perante o mundo colocadas debaixo do tapete, e uma inescrutável insegurança, sabe-se lá Deus o porquê (que ELE diria: “Ó, homem de pouca fé!”), digna de psicanálise, mas não posso gritar nem chorar; é feio, pois não seria demonstrar sinais de fraqueza. Assim, adio até uma próxima “crise do pânico”, eis que nunca morro. Isso passa como sempre.

Na maioria das vezes, todavia como qualquer pessoa sã, não vivo o dia-dia com medo nem sinto absolutamente nada; é como se não existisse o tempo presente (nem me lembro) nem futuro; por que haveria de ter se tenho todo tempo do mundo? Não penso no passado. Apenas vou vivendo no piloto automático. Não penso no que vestirei nem no que comerei amanhã. Apenas existo. Ajo aqui e agora. O pior é procastinar. Não chega a ser completa irresponsabilidade nem indiferença ou alienação, mas por outro lado, torno-me aventureiro, valente, destemido e ousado, como estivesse na fase maníaca de um transtorno bipolar oculto ou TDAH subliminar, quando fico dedatento, agitado, impaciente, ignoro detalhes e pulo fases. É uma auto confiança e segurança perturbadoras, completamente indiferente ao dia de amanhã.

O fato é que o medo do futuro deveria exercer um papel pedagógico em todos nós. Ora, deveria fazer parte do currículo escolar! Não acham? Imagine: em meio o fervor adolescencia com os hormonios batendo na estratosfera, quando é justa a preocupação com os filhos, o medo inconsciente ou desnecessário e prejudicial seria tratado e prevenido, transformado em “respeito ao futuro”, onde então, seria ensinado à nós, ainda quando jovens, a cautela, a paciencia, tolerancia, precaução e a previdencia e por que não a clarividencia? Assim, o medo irreal do futuro, que tanto nos faz mal e nos limita não mais existiria ou seria contido numa jaula e então, seríamos mais confiantes e felizes.

Paulo Rebelo, médico.

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