INSÔNIA*

INSÔNIA

 

Acordou no meio da madrugada.

Mais uma longa e quente noite insone…

Desejava poder ter dormido mais

Para escapar da eterna prisão à qual se condenou num auto julgamento absurdo e injusto

E libertar-se de sua crônica dor da alma para, enfim, gozar o glorioso e merecido idílio matinal em toda sua plenitude.

Venceu outra vez, todavia, a implacável e silenciosa noite escura, repleta de pensamentos insondáveis, palco de sua vida virtual, repleta de cenários e imagens pálidas e confusas como num paralisante cine loop.

Exposto esteve e refém mais uma vez de suas constantes angústias e medos, desprotegido como uma criança, refugiando-se debaixo dos lençóis, paralisado pelo temor.

Se relaxasse, quem sabe, estaria ele embalado por fantasias e sonhos, navegando por mares distantes, voaria como um pássaro e no recôndito de sua alma, onde são vistos aves e peixes que naturalmente se amam, ele adormeceria.

Lá no sono REM ele não teria mais o que temer; enfim, lá ele se reconheceria como alguém que sempre desejou ser; seria indulgente consigo mesmo e não mais se penitenciaria nem se puniria pelo que mal maior que não cometeu.

A noite, enfim, para sempre seria sua amada e eterna companheira com a qual selaria a paz, finalmente.

 

Paulo Rebelo, médico poeta. 2016

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