FALE*

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POEMA /
FALE!

(alô, faz tempo,
mas como não lembrar de ti?)

Fale-me de ti,
o que fizeste,
por onde andaste
todo esse tempo.

Fale-me de ti,
fale menos dos outros.
Fale-me das coisas boas,
não das coisas ruins,
de teus sonhos,
não teus pesadelos.

Mas, se quiseres falar sobre isso,
te escutarei,
serei paciente,
pois
eu, também,
tenho meus temores.

Fale-me de tuas aspirações,
não de tua abulia.
Fale-me de teus amores,
teus pecadilhos,
de tuas pueris ilusões
que aliviam tuas frustrações,
tuas dores,
não das desilusões,
teus rancores.

Mas, se chorares,
estarei aqui do teu lado.

Fale-me de tuas viagens,
o que mais te encantou,
o que de exótico degustaste,
tuas grandes aventuras,
que lembranças compraste,
que línguas escutaste.

Fale-me
de teu cônjuge,
teus filhos,
de teu lar,
lazer,
teus velhos pais,
não de teus enganos,
teus inimigos,
desafetos,
teus medos,
os maus sinais.

Mas, se isso te aflige,
conte comigo,
mesmo estando distante,
teu ombro amigo,
então fale.

Fale-me de tuas crenças,
de tuas bênçãos,
de tua espiritualidade,
a verdade de tua alma,
no que acreditas,
a realidade,
não de teus bens,
tuas propriedades,
cujo valor é relativo,
pois o espírito,
melhor estimado,
não tem materialidade,
a riqueza dos homens temporal e finita,
mera banalidade.

Fale-me de tuas curiosas
idiossincrasias,
tuas manias,
dos filmes
e músicas que gostas,
não de carros,
das jóias,
dólares.

Falemos de futebol,
da ideologia política que abraçamos,
mas por favor,
não de candidatos,
gente que mal conhecemos,
é estranho que os defendamos.

Ainda assim,
é claro,
mesmo pensando diferente,
sempre haverá tempo
e espaço para a amizade
e, se desejares,
um dia
poderemos sentar a beira do mar
e conversar,
enquanto tempo passa matando a saudade.

Paulo Rebelo, o médico poeta.

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