É CHIC SER POBRE*

A IGUALDADE SOCIAL, enfim!

(mas, longe da ideal)

Algo de desconcertante ocorre na sociedade brasileira, pois o HOMEM CORDIAL, cantado em verso e prosa por Sérgio Buarque de Holanda em Raízes do Brasil, acabou ou sequer existiu.

A civilidade é coisa do passado. Foi um devaneio, algo exótico de um paraíso tropical. Agora a moda corriqueira é falar alto e de boca cheia, cuspir no chão, soltar eructações e flatos publicamente; é falar palavrão desde homem à mulher do mesmo jeito, não importa, falar de suas preferências e posições sexuais, de seus múltiplos parceiros na cama e usar vocabulário limitado e chulo, coisa bonita, como que para demonstrar proximidade com o povo, ser o próprio povo e do povo, numa intimidade abjeta como a de vizinhos de cortiço, com a humildade e simplicidade de costumes e hábitos botequim, fazer Caras & Bocas de sortilégios e languidez, de preferência, com jeito escrachado de ser, naturalmente, tudo pela LIBERDADE DE EXPRESSÃO, pelo exercício pleno da DEMOCRACIA, da cidadania de demanda de direitos 100% e cumprimentos de deveres ZERO%.

Assim, estamos todos iguais nivelados por baixo! Não há mais diferenças entre ricos e pobres, pretos e brancos, notórios e simplórios; há sim, uma surpreendente riqueza de pobreza romantizada quando um favelado chega a doutor, enquanto 999 morrem pelo tráfico de drogas e bala perdida. Todos e qualquer um agora são chamados de “campeões”, “heróis”, “lendas” ou”mitos” por qualquer banalidade até por morar debaixo de viadutos ou sobreviver de salário mínimo, subvertendo o verdadeiro significado desses vocábulos que nos remetem às grandes sagas, epopeias e odisseias gregas e que por isso, seu uso abusivo e chega a constranger os grandes historiadores.

É CHIC ser pobre.

É a popularização da mediocridade nacional que faz a sociedade brasileira enterrar de vez a sua ALMA EUROCÊNTRICA, pretensamente educada, culta e intelectualizada, onde a burguesia nacional egocêntrica e empobrecida, sem saída, voltou-se para suas “raízes africanas e indígenas”, mais singelas e simplórias, beirando à selvageria em meio a batuques, tambores e atabaques.

A população gostaria de fazer parte de uma elite mais “purificada”, à moda da esquerda clássica, que é utópica e o que ora resta de elite sucumbiu aos maus costumes pandêmicos, pois atualmente, o que há são elites residuais que o populacho ama e odeia pela outrora opulência e ostentação e exibicionismo que gostaria de copiar, mas que jamais pôde alcançá-las, de um modo geral, criando um povo brasileiro amargurado, sarcástico, uniformemente insípido e incolor como numa linha de montagem industrial defeituosa; uma gente inculta, mal educada e intelectualmente pedante e sem nenhum brilho, vigor ou futuro decente. Com efeito, não há esperança. Nem mais o carnaval e futebol conseguem mascarar as chagas nacionais.

A favela desceu o morro e a burguesia fez o caminho inverso e nesse diapasão, o movimento de igualdade social, o BRASIL perdeu o que nunca teve: justiça social.

É a moda nacional UNISSEX de ser para todas as idades e raças.
Já que não enriquecemos, que tal empobrecer todos para compensar? Assim, não há o que reclamar se não há mais abismo entre ricos e pobres. Apenas há a pobreza de hábitos, costumes e vícios atávicos de costumes contagiosos que nem sarampo.

O empobrecimento nos torna iguais, paradoxalmente, mais “humanos”, reversamente, aumentando a auto estima pela “igualdade social entre todos”, pois não existiriam mais os fracassados; o fracasso nacional estaria “institucionalizado” e “democratizado” até ter sido incorporado definitivamente como algo “natural”entre nós, próprio de uma sociedade anacrônica, cujo maior patrimônio nacional, lamentavelmente, entre outras coisas medíocres, parece estar mesmo na profusão de nádegas tipo exportação e de todos os tamanhos; é o EMPODERAMENTO da pobreza total como motivo de orgulho nacional!

Paulo Rebelo, o escrevente do tempo.

 

 

 

Leave a Reply

Deixe o seu Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *