CONFIDÊNCIAS DE UM MÉDICO II*
CONFIDÊNCIAS DE UM MÉDICO II
Agradeço ao amigo-A as palavras de carinho, estímulo e apoio a mim e meu filho Bruno Rebelo e que divido com meus demais colegas profissionais da área da saúde envolvidos no combate à COVID-19.
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Ao amigo-A,
Despertei feliz nessa manhã de domingo. Tudo está em silêncio. Todos na casa dormem. Só ouço o canto dos pássaros e ao longe, um galo. O pálido clarão do céu contrasta ainda com o breu da terra.
Fiquei MUITO emocionado por tuas palavras. Lagrimei na alma. Muitíssimo obrigado pelo carinho. Jamais esquecerei. levarei ao mundo tuas palavras de apoio, estímulo, respeito e consideração.
Esqueci de escrever que tenho medo de adoecer e morrer (meu filho Bruno Rebelo e esposa Bernadete Rebelo me impedem de trabalhar mais por conta de pertencer ao grupo de risco), mas o amor pela profissão é tamanho que, simplesmente, o que importa é curar o próximo. Não é mais a vaidade nem a valentia desmedida de um jovem médico. Creio que isso é AMAR O PRÓXIMO COMO A TI MESMO e isso, eu não sabia. Não sabia que era capaz de cumprir o Segundo Mandamento de Deus. Por isso estou feliz. Desprendi-me de mim mesmo para ajudar o outro sem pedir nada em troca. É como se eu encontrasse um desconhecido, doente da COVID-19 e sem que ninguém me pedisse, eu o tratasse e ainda lhe agradecesse por essa oportunidade e lhe dissesse: “através de ti, minha vida profissional faz sentido”.
Hipotequei minha vida pelos que sofrem. Acredito que isso não tem preço. Se morresse hoje, morreria feliz.
Ainda estou emocionado. Assisti colegas e amigos adoecerem e morrer. Também, tenho medo, mas, também, tenho coragem e o amor à vida que é muito mais generoso.