CONFIDÊNCIAS DE UM MÉDICO I
CONFIDÊNCIAS DE UM MÉDICO I
Por Paulo Rebelo
Atuando na linha de frente no combate à COVID-19 há cinco meses, uma maravilhosa transformação opera em minha vida; desde então, assoberbado de trabalho, sinto-me mais útil do que jamais estive um dia, tendo cultivado uma crônica sensação de paz interior e gratificação pessoal pelo dever cumprido dia após dia; o NOVO CORONAVÍRUS, simplesmente, me impôs um enorme desafio como ser humano e como médico, mobilizando em mim uma força interior que imaginava não ter mais.
Atendo num outro FRONT, juntamente, como o meu filho médico Bruno Rebelo: o idoso e o portador de doenças crônicas, justamente, as pessoas mais vulneráveis à complicações e morte, portanto que devam ser protegidas.
Até o presente momento, tivemos sucesso na sua proteção. Muitos estão sendo acompanhados através da TELEMEDICINA.
Ultimamente, um novo e numeroso grupo foi incluído do atendimento diário: os sequelados físicos e emocionalmente da COVID-19.
Apesar do aumento desproporcional do número de pacientes e casos complicados pós COVID-19 ou não, não me queixo. Sim, estou cansado, mas não a ponto de ficar ansioso, tenso, estressado e nervoso tipo “chutando o balde”.
A maneira que tenho para neutralizar o estresse é a escrita literária.
Diariamente, agradeço a DEUS por ser necessário na SUA obra que é curar aquele-a que está doente.
Às vezes, chego em casa muito tarde e sem almoço, porém, estranhamente, é como se estivesse anestesiado.
Até coisas que pareciam ser importantes, motivo de preocupação, com a COVID-19, tudo adquiriu ressignificação. Vi com meus próprios olhos o que o vírus, um minúsculo ser sem vida própria é capaz de fazer com a humanidade.
Então, curiosamente, tornei-me mais “ZEN” ou seja, reflexivo. A experiência acumulada me fez mais confiante e realizado profissionalmente pelos resultados positivos, porém mais humilde.
A alegria pelo sucesso meu trabalho, como consequência, estranhamente, tem me provocado o aumento de neurotransmissores do prazer e me causado euforia, uma perigosa sensação de poder e bem estar, como se eu estivesse imune à COVID-19. Ledo engano.
A sensação de poder nesse momento é ilusória. Não estou tão bem como eu queira crer.
A COVID-19 colocou o mundo de ponta cabeça. Não há ninguém na face da terra que a entenda com amplitude e profundidade. Não sou diferente.
Ando impressionado com os sequelados; aqueles que estiveram entre a vida e morte, os que perderam entes queridos e hoje, apresentam estresse pós traumático, ansiedade generalizada, angústia e depressão. Aumentou muito o tempo de consulta para convencer essa pessoa de que ela não vai morrer; na maioria das vezes, as palpitações, dor no peito e falta são reflexos desse período. Muitas vezes os sintomas, manifestações físicas são problemas no coração, sim. O número de receituários controlados triplicou ou quadruplicou. Fora isso, apraz-me esclarecer dúvidas e acabar com a desinformação provocada pelas mídias clássicas e sociais.
Assim, diante do poder dessa tragédia, da auto ilusão de onipotência e onisciência que venha a ter, me vi forçado a acreditar mais do que nunca de que necessito da proteção divina; a caminho da CardioClínica, rezo a DEUS, pedindo por SUA proteção, pois a luta é longa e árdua. Ao retornar à casa, agradeço-LHE porque não fui infectado após cinco meses de COVID-19 e tenho a sensação de que com ELE que me protege, jamais serei!
À você que me lê, rogo-te que rezes por mim.
🙏🙏🙏
Paulo Rebelo