AS MINHAS RAZÕES PARA ESCREVER*

 

“Um dia acordei e disse: preciso escrever, senão morrerei sufocado pela minhas próprias memórias”.

Paulo Rebelo

 

AS MINHAS RAZÕES PARA ESCREVER

 

Um dia resolvi escrever não exatamente sobre a minha vida, mas precisamente sobre os acontecimentos ao redor dela ao longo de três décadas, algo seguramente mais interessante. É a história do que vi e senti e vivi.

Ocorreu após sentir que estava mais amadurecido, sem antes ter passado por duras provações pessoais que me fizeram ser um homem melhor. Precisava registrar o que vivenciei. Na verdade, eu já escrevia, mas eram frases ou textos que estavam guardados nas gavetas, em pedaços de papel. Alguns escritos eram simplesmente ideias fragmentadas na minha cabeça. Após compreendê-las, precisava expor meus sentimentos, minhas experiências de vida, passar a limpo, pois especialmente, na prática médica, atendendo tanta gente e experimentando de perto tanto sofrimento humano e confrontar com a minha própria vida, é impossível não desenvolver empatia pelo outro. Explico:

Ao iniciar me vida profissional, diante da morte ou da invalidez, eu tinha certa dificuldade em abordar o assunto com o enfermo e familiares. Por exemplo: como dizer para alguém que a sua morte é esperada? Como dizer a essa pessoa que a sua doença não tem cura? O que lhe dizer diante da invalidez permanente com séria limitação para a vida plena? Enfim, como eu gostaria de receber tais notícias?

Assim, o aparecimento de vários casos clínicos difíceis foram moldando o meu discurso que foi evoluindo diante da complexidade das questões da vida e morte. Acima de tudo me ensinaram a ter humildade e mais serenidade e equilíbrio diante da fatalidade e desenvolver empatia por aquele que sofre, pois muitas vezes me senti completamente impotente e a medicina não pôde me responder sobre as aflições de minha alma. Dessa forma, nos meus textos foi inevitável não falar de existencialismo à altura de meus sessenta anos. De um modo geral, alguns textos são profundamente reflexivos e existencialistas. São ricos em narrativa surreal, vocabulário, metáforas e figuras de linguagem.

Então, acabei por distribuir os assuntos de meus textos para as categorias a seguir:

AS DORES DA ALMA
AS DORES DO CORPO
AS DORES DO MUNDO

AS DORES DA ALMA são as dores do próprio autor. Traduzem a inquietude da alma. Essa foi a primeira e maior razão para escrever. É a maneira como ele vê, sente o mundo ao seu redor e reage. É um momento de profunda reflexão quando ao passar por um instante de sofrimento pessoal, da dor ela ele liberta, por fim.

AS DORES DO CORPO revelam como o autor lida com os fenômenos da morte e invalidez e encara a relação médico-paciente, que deve ser buscada e fortalecida para que haja sucesso terapêutico e sobretudo, a partir da compreensão disso, seu próprio crescimento como ser humano.

AS DORES DO MUNDO são as dores mais distantes, porém presentes no cotidiano, vivenciadas pelo autor nos âmbitos local, regional e mundial, como as constantes mudanças de comportamento da sociedade, tendências, as doenças, desigualdades sociais e injustiças sociais.

A segunda razão foi permitir com que meus pacientes passassem a conhecer o homem Paulo Rebelo, muito além da figura do médico. Gostaria que conhecessem o ser humano Paulo Rebelo. Creio que o objetivo terá sido cumprido quando passarmos a conversar assuntos mais aprazíveis além de doenças, algo pesado para médicos e pacientes.

A terceira razão acabou sendo um desdobramento natural das primeiras; a necessidade deixar um valioso registro pessoal do homem e médico Paulo Rebelo na forma de legado para as pessoas que amo.

Acredito que saberás apreciá-lo.

Um abraço fraterno,

Paulo Rebelo

P.S. Todas as imagens que ilustram o SITE amapaulo.com.br são de minha autoria.

 

 

 

 

 

14 Responses

  1. Arli Aldo Picanço disse:

    Belíssimo texto, aliás, como todos que já tive a oportunidade de ler e inclusive usar em meu magistério.

  2. Deyverson disse:

    Parabéns meu amigo,pela iniciativa.

  3. Jorge Manuel Azevedo Carneiro disse:

    Acredito que foi a escolha certa a fazer, quando se tem uma vida repleta de coisas boas ou ruins, relatar las é o certo a fazer e a deixar registradas

  4. Vera Gondim disse:

    Era o que faltava na tua vida. Colocar no papel o que estava guardado dentro de ti . Memórias , insights e estórias de uma vida toda .., agora , contadas em pensamentos e contos . Apoiado .

  5. Eliane costa da Silva disse:

    Um texto rico ,com ênfase no autor e médico onde o mesmo tem uma preocupação com sua pessoa e seus pacientes.

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