ANIMAL*

ANIMAL
Poema de Paulo Rebelo

Às vezes,
Não desejo…
Finjo,
Não haver o mal
Indesejável
Dentro de mim.

Parece
Um defeito de fábrica.
Uma sabotagem
Ou já ter nascido
De fato, assim.

Por isso,
A violência gênica.
Tanta inquietude,
Tamanha iniquidade
Em meio
A certa inocência
Por não ter
Do mal que causei
Consciência.

Pareço uma coisa,
No fundo, sou outra.
Quero escondê-la
Desvencilhar-me dela,
Mas continente
Lá está ela em mim
Silente.

O mal indelével,
Discreto
Escondido sob a pele,
Transpirando;
É minha essência,
Verdadeiramente,
Para demonstrar quem sou:
Insondável carência.

Daí,
Há uma guerra interna
Travada dia e noite
Que não dá trégua;
Um esconde-esconde
Dentro de mim.
Para medir
Não há régua.

Nem sei por que
O mal em mim existe,
E resiste
Quem me a ensinou?
Qual a violência original?
Que tinha q ser
Assim,
Estranhamente,
Para justificar
Minha existência?
Parece uma cruz,
Uma penitência.

Assim,
Temo dizer:
Sou irracional,
Portanto,
Imprevisível,
Feroz animal.

A Deus, muitas vezes,
Perguntei:
“Por quê?”

Deveria haver
Uma placa afixada
Em mim dizendo:

“AVISO:
cuidado,
ANIMAL!”

Paulo Rebelo, o médico poeta.

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