ANIMAL*

ANIMAL

Às vezes,
Não quero,
Sei lá,
Talvez, finjo,
Não ter o mal
Dentro de mim.

Parece
Um defeito de fábrica.
Uma sabotagem
Ou ter nascido comigo.

Por isso,
A violência,
Tanta inquietude,
Tamanha desfaçatez
Em meio
A certa incontida
Inocência.

Pareço uma coisa,
No fundo, sou outra.
Quero escondê-lo
Desvencilhar-me
Dele,
Mas continente
Ele está lá em mim
Silente.

O mal indelével,
Discreto
Em toda pele,
Sublimado,
Escondido,
Na minha essência,
Verdadeiramente,
Para demonstrar quem sou.
Insondável carência.

Daí,
Há uma guerra
Travada dia e noite
Que não dá trégua;
Um esconde-esconde
Dentro de mim.
Para medir
Não há régua.

Nem sei por que
O mal em mim existe,
E resiste
Que tinha q ser
Assim,
Estranhamente,
Para justificar
Minha existência.
Parece uma cruz.
Uma penitência.

Assim,
Temo dizer:
Irracional,
Portanto,
Imprevisível,
Feroz animal.

A Deus, muitas vezes,
Perguntei:
“Por que?”

Deveria haver
Uma placa afixada
Em mim.

AVISO:
cuidado,
ANIMAL!

Paulo Rebelo, o médico poeta.

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