AMOR PROIBIDO*
A cura lhe fizera bem;
bem até demais.
Passou a usar vestidos mais ousados,
coloridos e se pintar até para comprar pão na esquina,
algo que não fazia há algum tempo.
Então, passou a frequentar o consultório do médico com mais frequência, sempre desacompanhada, queixando-se de sintomas inexpressivos, sem causa orgânica definida, mas acrescentando teatralidade como se fosse algo grave, claramente
buscando a atenção daquele que lhe dera saúde física depois de anos sofrendo,
tudo para que ele lhe solicitasse exames e assim pudesse ela ficar mais tempo ao lado do médico.
O médico percebera a razão;
ela estava perdidamente apaixonada por ele. Conhecia esse tipo de dependência emocional.
Não a rejeitava nem alimentava esse devaneio.
Para ele isso era comum,
ele já experimentara essa situação com outras pacientes que confundiram sua atenção, paciência e educação com amor,
mas isso não era normal;
nenhuma mulher em sã consciência se apaixona por seu médico,
Criou na sua cabeça um romance mais do que platônico;
era um do tipo proibido, daqueles que se pede segredos e cumplicidade entre um homem e uma mulher.
Ela lhe dava presentes imotivados, inicialmente, cartões de agradecimento, depois de amizade, para finalmente, de amor.
Mostrava-lhe fotos sensuais e íntimas que guardava a sete chaves, exibindo a volúpia das curvas de seu corpo, procurando desejo mútuo nos olhos do médico.
Seus abraços de chegada e saída eram cada vez mais apertados do tipo corpos colados.
Os beijos não eram mais só no rosto;
ela lhe pedia “selinhos molhados”. Ousou a pedir “de língua”, negados.
Relatava os seus frequentes desejos de fugir dali com ele para onde ele quisesse e que não fossem reprovados e por fim, seus sonhos eróticos. Acabara o pudor em nome do amor. Era assédio sexual feminino puro,
algo que médicos, sendo vítimas, evitam falar.
Até então ele havia tolerado os excessos daquela mulher, desconversando, tentando dissuadí-la, mas por falta de tato e firmeza, perdera totalmente o controle.
Educadamente pediu-lhe para que ela viesse acompanhada,
algo que acatou, mas não cumpriu.
Então, a porta do consultório passou a ficar entreaberta e pedira que a secretaria o interfonasse quando a consulta estivesse demorando além da conta.
Já quase sem saber o que fazer, pediu aos céus para que ela não mais voltasse alí, pois aquela situação já era motivo de piada pelos corredores da clínica; só faltava dizer que o médico era o assediador de mulheres.
Um dia, sem que esperasse, finalmenre, suas preces foram atendidas.
Inicialmente, desconfiado, fez-la entrar no consultório.
Após um breve silêncio e com uma carta de despedida nas mãos, com lágrimas nos olhos e a voz embargada,
ela lhe disse que não podia mais levar adiante aquela loucura que sentia por ele,
não porque ele fosse um homem casado, mas porque seu coração estava sofrendo muito por um amor impossível, pois o seu médico não estava disposto a curá-lo, infelizmente.
Assim, sofrida, chegara a triste conclusão de que era mesmo um AMOR PROIBIDO e até condenável entre um jovem médico de trinta anos e uma velha senhora de oitenta que há seis meses frequentava o seu consultório!
😁😁😁
Paulo Rebelo, o médico poeta.