ALFARRÁBIO*
🖊️ALFARRÁBIO
Por Paulo Rebelo
A minha vida
É um livro antigo.
Está disposto
Num almanaque,
Em algum lugar
Na estante exposto.
Resta meio invisível
No meio do mundo,
Passando incógnito
Aos olhos do povo,
Transeuntes,
Largado num posto.
Não tem
Prólogo,
Epílogo,
Nem capa.
Está disponível
Somente
A pedido,
Edição clássica
Limitada.
De aspecto comum,
Mas com cheiro,
Cor e raça
Diferentes,
Que o distingue
Entre bilhões
De outros seres humanos
Já vividos;
É edição esgotada,
Rara.
Uma onírica odisseia.
Páginas criadas
Inconscientemente
Através de aleias.
Eis que um dia,
São letras escritas,
Ora com esmero,
Tela criada pelo artista
Com desvelo,
Invocativo,
Ora com puro desleixo,
Provocativo,
Tintas atiradas a esmo
Sobre canvas,
Displicentemente,
Sonhos de liberdade,
Um escritor aflito,
Repleto sonhos
E defeitos.
São páginas inteiras
Com ruído intenso
Dum’alma poética,
Milhões de frases inauditas,
Mas no silêncio revelador,
Também,
Toda palavra entendida,
Outras tantas
Folhas em branco,
Aleatórias,
Rabiscadas,
Por vezes,
Vibrantes,
Abstratas,
Alucinantes,
Desvairadas,
Em raros momentos,
Pensamentos equilibrados,
Palavras sensatas.
Minha breve
Existência,
Caprichosamente,
Posta em capítulos,
Uns curtos,
Outros longos,
Nela toda minha
Loucura liberta,
Tudo fez sentido.
Na leitura,
Um instante,
A breve eternidade,
Mero acaso,
Dentro de um destino
Sem um propósito,
Sem rumo,
Em frases soltas
Sem prumo,
Ora de inestimável valor,
Ora nenhum,
A depender
De meu humor.
O incauto leitor
Há de se perguntar:
Que raios de livro
É esse?
Dir-te-ei:
É o meu!
O livro não me descreve
Nem diz exatamente
De que se trata,
Aberto à indagações;
Está repleta
De pontos em seguida…
De interrogações,
E muitas erratas.
Poderia ser o teu!
Assim,
O livro é intenso,
Fruto de imaginações,
A ponto de não
Ter fim nem começo,
Pontos de inflexões,
Alguns são encruzilhadas,
Becos sem saída,
Incógnitas
Ou simplesmente,
Uma longa e infinita
Estrada.
Paulo Rebelo, o médico poeta.