AGULHA NO PALHEIRO*

🖋AGULHA NO PALHEIRO
Poema de Paulo Rebelo

À procura da razão,
A inefável volúpia do ser,
Quando num tempo
De autoconhecimento,
Após buscar às cegas,
Ainda encontro forças,
Ao me olhar no espelho
E me confronto
Comigo mesmo,
Silenciosamente,
Expondo ao mundo
Minhas idiossincrasias,
Em busca de respostas
E paz.

Lá vou eu
A caminho da libertação,
Consciente da eterna prisão
Do espírito,
Imerso em tépidas memórias
Do subconsciente,
Um bálsamo para meu interminável
Sofrimento,
Pelejando para me equilibrar
Na corda bamba,
Reagrupar minhas forças,
Para me manter no páreo,
Voltado para um futuro
Cada vez mais incerto,
Mas ainda com esperanças.

Todavia, o mistério
Parece estar mais profundamente,
Oculto em algum lugar
De minha mente,
Que me amedronta
Por vezes,
Me envergonha,
Algo como o lixo
Debaixo do tapete,
Um segredo guardado
A sete chaves,
Que nem eu sabia que existia
E me acovardo,
Um pesadelo acordado,
E são fruições
De minha alma insurrecta,
Que vaga mergulhada
Em eterna inquietude
E rebeldia.

À medida
Que me aprofundo,
Tudo é escuro e confuso,
Uma profusão
De sonhos indistintos,
Passado e presente
Emaranhados
No inconsciente,
Como que num labirinto,
Um beco sem saída,
Um saco sem fundo,
Onde sempre estive
Anonimamente presente.

Assim, cá estou
Escondido bem dentro de mim,
Um mundo repleto
De delírios e alucinações,
De muitas perguntas
Sem respostas,
Com um pouco da lucidez,
Que ainda me resta,
Muito dizendo sobre
Quem eu sou,
Um ser à procura de si,
Como agulha no palheiro.

Paulo Rebelo, médico poeta.

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