AGULHA NO PALHEIRO*
AGULHA NUM PALHEIRO
Poema de Paulo Rebelo
À procura da razão,
Algumas vezes,
A inefável volúpia
Do ser,
Quando num tempo
De auto conhecimento,
Ainda que às cegas,
Encontrei forças
Derradeiras para me olhar
No espelho
E me confrontar
Comigo mesmo,
Silenciosamente,
Expondo ao mundo
Minhas idiossincrasias,
Em busca de respostas
E alguma paz.
Conscientemente,
Lá estive eu
A caminho da libertação
Dessa eterna prisão
Do espírito,
Imerso em doces memórias
Do subconsciente,
Um bálsamo para meu eterno
Desassossego sem limites,
Pelejando para me equilibrar
Na corda bamba
E reagrupar minhas forças,
Para me manter no páreo,
Voltado para um futuro
Sempre e cada vez
Mais incerto, mas repleto
De esperanças.
Todavia, o mistério
Estava mais abaixo,
Oculto em algum lugar
De minha mente,
Que me amedrontava
Ou me envergonhava,
Algo como o lixo
Debaixo do tapete,
Um segredo guardado
A sete chaves,
Que nem eu sabia que existia
E me acovardava,
Um pesadelo acordado,
E eram fruições
De uma alma inssurrecta,
Vagando mergulhada
Em eterna inquietude
E rebeldia.
À medida
Que me aprofundava,
Tudo era escuro
E confuso,
Uma profusão
De sonhos indistintos,
Passado e presente
Emaranhados
No inconsciente,
Como que num labirinto,
Um beco sem saída,
Um saco sem fundo,
Onde estive sempre
Anonimamente presente.
Assim, cá estava
Escondido em mim
Um mundo repleto
De delírios
E alucinações,
De muitas perguntas
Sem respostas,
Com um pouco da lucidez,
Que ainda me restava,
Muito dizendo sobre
Quem eu era,
Um ser à procura de si,
Como agulha num palheiro.
Paulo Rebelo, médico poeta.