ACHADOS & PERDIDOS*

 

ACHADOS & PERDIDOS

(dançando o carimbó)

Texto de Paulo Rebelo

 

Às vezes, entre um e outro movimento da vida, 
desses que rodam a gente que nem peão no olho de um furação, 
uns por encomenda, outros meramente ao acaso, 
ocorrem fatos que me fazem refletir sobre a vida e por conseguinte, 
a minha própria.

Acontecem como uma PAUSA ou um PIT STOP, 
interrompendo abruptamente a música.

Parece existir uma tecla ON/OFF, exceto que o comando não é meu, 
quando me liga e desliga e por vezes, me trava.

Então, de repente passa a tocar uma música de ritmo mais acelerado. 
Ocorre que por estar sem prática, 
me vejo forçado a me sentar no canto do salão de festas 
que muitos apreciam
ou dançar como um desajeitado e sem graça.

A festa continua e ainda que, às vezes, não deseje participar, não há como evitar se todos dançam alegremente e se não desejo “dançar conforme a música”, passei a entender humildemente que preciso aprender a dançar a música para divertir-me com os outros, sem estresse 
e sem dor na consciência de estar com a sensação de perda de tempo
e por fim, abrilhantar os esforços de quem duramente a concebeu.

É que a vida tritura o corpo, mas a música amolece o espírito. 
E dançar sozinho não traduz felicidade.

E nesse diapasão me flagro pensando porque o homem acumula mais dúvidas do que certezas, 
muitas vezes, completamente abandonado que nem um náufrago qualquer numa ilha oceânica, cercado de incertezas e inseguranças.
E para ser salvo, precisa comer o pão que o diabo amassou
e aceitar suas limitações que, de repente, foram expostas em praça pública,
vergando a sua irredutível personalidade, como que atrás de um réu, dizendo: 
“PROCURA-SE”.

Assim, vi outros dançando alegremente 
muito melhor do que eu.
Exemplos não me faltaram 
e pequei e muito, por pura imaturidade e orgulho,
mais por atentar para seus defeitos 
do que para suas belas qualidades.
Não que fossem exímios dançarinos, mas gente que na maioria das vezes bailava ao vento, descalça, de vasto sorriso, com calças de pescador, saias coloridas e rendadas, 
despojada de ostentação e vaidade,
dançando ao som do carimbó e suas letras pueris 
que nos fazem sentir homens e mulheres sem maldades.

Aí, voltei a me perguntar: “o que verdadeiramente faz um homem realizado como ser humano?
O que fazer para se ver livre de um peso morto no fundo da consciência?
Como não cair nas armadilhas do egoísmo e egocentrismo que sugam nossa LUZ interior como um buraco negro no universo?
Como posso ser que nem aquele dançarino de carimbó?
Como ser aceito não por aquela turma do colegial, 
mas por uma irmandade fraterna? 
Que a partir da volatilidade e fragilidade da vida, 
alguns seres quase que santos com os quais de perto ou à distância convivo ou os vejo,
encontraram a resposta ainda em vida, (essa que desperdicei muitas vezes); passaram a fortalecê-la com atos dignos como a bondade, a caridade, a misericórdia e o perdão.

Eis, a resposta.
Pude relaxar, dormir e acordar em paz, enfim.

Assim, a maior boa nova que tive na minha vida foi de ter encontrado a tempo o mapa do caminho da verdadeira felicidade (sabendo que deverei o consultar sempre), através de inúmeras boas pessoas que vi ao meu lado dançando,

não que eu desejasse lhes imitar e sim, apenas que buscasse seguir seus passos nos bailes da vida.

Então, ao som da música, cantarolavam à distância:

“vou te ensinar sinhá PUREZA
a dançar o meu Sirimbó…”

Paulo Rebelo, o médico poeta.

🎵🎵

One Response

  1. Paulo Rebelo disse:

    Grato. Foi no sentido de brinquedo mesmo. Não havia pensado em peão. Boa sacada!
    O site foi idealizado como base do livro que lançarei até o fim do ano. Passará pela revisão de um doutor da língua portuguesa.

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