A SENHORA E A MUCAMA*

A relação entre as duas senhoras deveria ter sido sempre entre patroa e empregada. Curiosamente, é muito comum predominar a velha relação colonial entre o senhora, esposa do senhor de engenho e a mucama (ou mucamba), que nunca deixou de existir naquela relação de escravidão moderna, fadada ao desastre como esse, mas ninguém jamais poderia prever tal tragédia, pois patroa e empregada, branca e preta eram tão “amigas” e coniventes, conforme abstrai-se dos relatos, pois a cordialidade entre as duas era uma farsa e, para mascarar essa relação de escravidão oculta, uma prestava favores à outra sempre numa relação mórbida de servilismo, à custa de muita tolerância na forma de condescendência e paternalismo. Em síntese, as duas senhoras são vítimas de relação perigosamente permissiva: uma simbiose patológica, pois a patroa disse: “leve o meu cãozinho para passear que eu tomo conta da criança”. A empregada deu o troco: fez da patroa a babá. Poderia ter levado o filho consigo, visto que a patroa estava fazendo manicure e não tinha obrigação para tal, a espregada, era a sua diária. E, o apto da patroa é creche? Ah, não é crime de cunho racial mesmo, mas algo bem desumanamente humano, lamentavelmente; as duas senhoras não são indiretamente culpadas; a criança, vítima. Ambas faltaram com seus deveres e responsabilidades na forma da lei.
Que DEUS os ilumine para que haja a justiça divina.

Paulo Rebelo, médico.

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