A PRIMEIRA VEZ*
A PRIMEIRA VEZ
Eu dormia profundamente quando ela saiu.
Não me dei conta do leito vazio.
E sem saber se fora ontem, estava no cais quando no navio ela subiu e ao longe com o lenço à distância, disse um breve adeus. Nem mala levou.
E agora, me perguntei?O que me resta?
Se era sonho, no nosso carro partiu, não sei.
Dessa vez, não disse nenhuma palavra sequer e sem olhar para trás, saiu.
Na cozinha, uma passagem só de ida de avião.
Tive aflição.
E à medida que se afastava, sua imagem na neblina, estranhamente, não sumia, muito doía.
Era um distanciamento lento e progressivo que apareceu subitamente, mas parecia há séculos, do tipo em que a alma definha exangue até desaparecer por completo para não deixar vestígio no mundo.
Senti um aperto no peito. Então, acordado chorei.
Assustado, despertei; ao olhar para o lado, do meu lado ela doce, profundamente, dormia.
Assim, aliviado, longamente, eu a beijei como nunca; como num sonho, como se fosse a primeira vez.
😘😘😘
Paulo Rebelo, o médico poeta.