A PARTIDA (aceite o teu destino ou crie o teu caminho)*
A PARTIDA
(Um homem e sua consciência… Um barco ancorado no porto)
• Ainda tenho tempo!
Por que tens tanta certeza? Melhor seria se tu te perguntasses: “quanto tempo ainda tenho antes da partida?”
• Então, ainda tenho tempo?!
Certamente, sim! Todavia, não como tu imaginas. Só tens um breve e intenso tempo. Parece interminável, mas não todo o tempo do mundo como te fazes acreditar, sentir e o que é pior, agir sem pensar!
• Diz-me, desperdiço meu tempo?
Creio que sim, pois tudo a seu tempo!
• Mas, quem me garante? Faço o minha própria tábua da maré e como esse barco que ancorado no porto parecendo que nunca vai zarpar e de repente, livre, parte sem dizer adeus, não esperando por ninguém…
Assim funciona, pois assim somos nós! Aparentemente firmes, mas inconstantes, instáveis e imprevisíveis. É a sina.
• Sou cúmplice dos homens e coisas livres; destarte, o quero livre e isento de amarras assim como eu, mas por Deus, ele que de longe veio, diga-lhe que não parta; que partamos juntos, pois somos irmão da liberdade; como ele um dia desejo partir para outros mares distantes e desconhecidos e aprender a viver.
Todavia, se me perguntares: para onde o barco vai, de nada adiantará! Não terás resposta mesmo, pois não há ninguém no porto para te dar informações sobre o horário de partida, chegada nem quanto ao destino! Só verás um burburinho de um vem e vai de gente e mais gente… Isso não te assusta?
• Ah! São eternas as minhas dúvidas que me provocam uma perturbadora insegurança, porquanto são o resultado de outras tantas inquietantes dúvidas; trazem consigo somente a incerteza atroz. Não as quero cultivar, pois o meu medo é ficar paralisado e jamais um dia poder sair desse lugar como esse barco amarrado ao cais.
Fazei-o bem! Aceite o teu destino ou crie o teu caminho. Não dependa dela para partir.
• Tenho uma certeza absoluta: nesse momento não desejo partir; não agora que aqui me encontro tão bem, livre, parecendo viajar eternamente sem sair desse lugar…
Impossível! Como te disse, não tens todo o tempo do mundo! Um dia tu vais partir mesmo com ou sem o barco, mas que este jamais te esperará ad eternum.
• Então, ora! Que o barco parta definitivamente ou me aguarde. Sou tão livre quanto ele!
Até quando, então?
• Sempre que minha alma quiser, pois asseguro-te que sou o comandante de meu destino; ainda há muito que ver, sentir e viver!
Por Paulo Rebelo, o médico poeta