A MOEDA*
Às vezes,
Acontece:
Estranhamente,
Sentir-se só
Como agora,
No meio de noite,
Quando o mundo
Inteiro dorme.
Ouve-se
A própria respiração
E na escuridão
Os olhos,
Acesos que nem faróis,
É quando mais
Vêem tudo,
Assistindo em detalhes,
A vida em cine loop.
Assusta estar só,
Pois no silêncio
Para ser escutada
É quando a alma
Mais se agita,
E grita
Que está necessitada.
A solidão lembra
A fila
De um banco
Em que sozinho
Põe-se
Contando pensamentos
E sentimentos
Sem nenhum valor
E sem dividendos
Como quem contabiliza
Apenas moedas
De sofrimentos.
Paulo Rebelo, o médico poeta.