A MELANCOLIA
A MELANCOLIA
Por Paulo Rebelo
Aconteceu
Num piscar de olhos
Do céu escurecer,
Se tornar cinza
E opaco,
Da noite sem estrelas,
Do dia perder a cor,
Da vida sumir o viço
E o doce sabor.
Era como gotas de orvalho,
Molhando pungentemente
Minha alma,
Até quase morrer
Afogada,
Definhando sem vida exangue,
Renascendo na manhã seguinte,
Cujos dias se repetiam
E sempre iguais,
Rolando em camara lenta,
Quase parando…
Naquelas longas noites
De solidão,
O meu encontro
Com a interminável
Tristeza,
A fonte dos textos
Do poeta,
Onde mil páginas
De minha vida escrevi
E rasguei
Para dela me desfazer
Em lágrimas,
Tudo que batia de porta
Em porta,
Até que um dia
Se aninhasse
A melancolia
Sorrateiramente,
Na minha alma
Dentro do peito,
E sem ser convidada
Aprisionando a emoção,
Um animal selvagem
Em extinção.
Eis que me deparo
Com a desesperança
No fim do caminho,
Beco sem saída;
Uma existência
Cheia de vazio
Arrebatadora,
Penetrante carencia,
Tão pesada,
Quanto reveladora.
É através dela
Que me conheci;
O pior e o melhor,
Mergulhado profundamente
Em mim,
Pois se nela
Uma vez me perdi.
Estranhamente,
Na soturnidade
Nela eu me reencontrei.
Através da profunda dor pessoal,
Ao mundo me revelei.
.
💐💐💐
Paulo Rebelo, o médico poeta.