A JUSTIÇA SIMULACRO*
Amigo-A,
Assisto incrédulo e estupefato, que mais um malfeitor amapaense entre muitos outros está livre, não mais devendo prestar contas à justiça.
A cena é recorrente: são agentes púbicos e políticos, outrora incensados ou autointitulados “poderosos”, que saíram das páginas sociais para as policiais, geralmente, articulados e influentes, que durante anos ou décadas foram vistos e tidos como gente fina e de bem, avaliados ou condecorados como prestadores de “serviços relevantes para a sociedade”; tudo mise-en-scène, pois o preço dessa gente arrivista em busca de sucesso econômico e poder para si a curto prazo é altíssimo, em detrimento da sociedade, cujo retorno para ela é migalha ou inexistente.
Após longa batalha a perder na memória do povo, são frequentemente libertos pela justiça, pasmem, em nome de uma justiça, cujas várias instâncias nem elas mesmos se entendem e o que pior, trocam farpas e acusações de incompetentes e autoritárias.
O mais culto e intelectualizado dos homens na área jurídica não consegue nem explicar com clareza, quiçá um leigo como eu, os caminhos e descaminhos das leis, todos embasados por supostos “sólidos fundamentos jurídicos”, quase que impenetráveis. Parece sofisma e ainda por cima, repleto de silogismos. Não passam de academicismo, travestido de pretenso rigor processual.
Nessas horas faria falta a figura do Rei Salomão, um dos homens mais sábios, que à procura da justiça, abstrairia-se de tecnicismos jurídicos, afastando-se dos nefastos meandros da lei, que mais parecem trabalhar para absolver o bandido. A condenação dessa gente, então, em larga medida, seria baseada em preceitos éticos e morais, mas isso, obviamente, não conta no julgamento das cortes brasileiras.
Após uma longa e entediante refrega entre o bem e o mal (vide o caso da LAVA JATO, demonizado pelo STF), o final é invariavelmente o mesmo: o inocentamento de um criminoso; de um lado, o BEM, abraçado pela vítima (povo), policiais federais, delegados, procuradores, juízes de primeira instância; de outro lado, o MAL, nas mãos de habilidosos e bem pagos advogados e da Suprema Corte, em especial, de um ou mais de seus mais notórios falastrões, para que seja absolvido/inocentado (dá no mesmo), por prescrição da ação criminosa. Eis o GRAN FINALE; a justiça prevalece, mas que justiça é essa?
A quem recorrer desse absurdo quando tudo parece tão surreal, em a realidade é substituída pelo imaginário do faz de conta, o que era pesadelo para o criminoso tornou-se apenas uma página virada na sua vida de crimes?
Assim, após vultosas batalhas judiciais em que a justiça parece uma perigosa aventura, ao final, esta subjuga a própria justiça, desqualificando-a e a humilhando vexatoriamente, restando a estranha sensação de completa e inapelável injustiça para o homem de bem, enquanto pesadelo; o crime compensa, sim, pois o absolvido o criminoso mesmo estando maculado socialmente, não importa, a ética e moral são valores par ele não têm nenhum valor, exceto o butim amealhado ilicitamente, imaculado para a justiça.
Paulo Rebelo, o médico poeta.