A GUERRA*
A GUERRA
Assim que nasci,
ainda na maternidade,
minha mãe me disse:
“menino, viver é uma grande guerra”.
Pensei, então: “o que tudo isso significa?”
Quem são meus inimigos?
Por isso tenho que viver camuflado?
Assim, recusei-me a ter um papel de figurante;
decidi lá no berçário que doravante eu seria o protagonista
da melhor história.
Viver com medo é contagem regressiva para morte.
E se para vencer essa guerra fratricida é tangenciar a vida,
andar sorrateiro,
esgueirando-se pelos cantos omitindo,
iludindo,
olhar fugidio,
é suicídio,
sem antes definhar pouco a pouco,
Para que usar disfarces?
Por que maquiar a dor se ela é tão humana?
Aprendi a não fingir o que não sou,
o que jamais serei,
Assim, desnudo-me da carapaça
que no berçário me puseram.
E ao longo do caminho fechei a conta,
Nada devia.
Por isso, estou livre.
Apenas sinto vontade de ser quem sou do fundo de minha alma!
Paulo Rebelo, o médico poeta.