A GATA*
A GATA
🐱🐱🐱
A minha casa se tornou o lar de duas cadelas dos filhos e dezoito gatos e gatas.
A criação começou ao acaso com uma gatinha que estava abandonada, errante, quando foi trazida para cá pelas filhas que se apiedaram do animal e daí, ao longo de três anos, deu crias que deram mais crias.
Criar animal tem um forte apelo pedagógico, social e humano sobre o homem. A gente se torna mais humano, de fato.
Um dia, uma velha gatinha aconchegou -se por aqui. Com o tempo, desenvolveu falta de ar que ouvíamos o chiado no peito à distancia como se fosse asmática e com isso, visivelmente cansada, pouco andava, preferindo ficar sozinha, pois recebia bullying dos demais até na hora de se alimentar em grupo. Não se queixava. Nunca ouvimos o seu miado. Para nossa preocupação, com frequência ficava debaixo dos carros. Não respondia aos chamados, exceto quando era por ração.
O pior aconteceu; depois de chamá-la por vinte quatro horas, localizamo-la num canto estirada. O veterinário constatou fraturas múltiplas na bacia e membros traseiros. Foi um choque para nós. Foi esmagada acidentalmente. Já não importava como. Sobreveio um enorme sentimento de culpa.
As chances de sobrevivência eram pequenas. Urinava sangue. Ficou internada. Cogitou-se o sacrifício do animal. Seria desumano. Por piedade, resolvemos levá-la p casa.
A minha esposa chorava dia e noite e pedia a DEUS que tivesse compaixão e o milagre ocorreu; passados alguns dias, ela sobreviveu. Já não anda, se arrasta para comer e beber com alimentação rica em nutrientes. Possivelmente, isso acelerou o seu pronto restabelecimento. Curiosamente, a asma sumiu.
Passou a viver num cantinho da casa sempre rodeada com carinho e afagos nossos. Até as cadelas a respeitam. Parece resignada. Continua daquele jeitinho: calma e sem queixas. Seus olhos não são de tristeza nem de sofrimento: algo me diz que ela gostaria de nos dizer alguma coisa.
Os seus olhos lembram os de amor para conosco.
Paulo Rebelo