A FRÁGIL CONDIÇÃO HUMANA*
A FRÁGIL CONDIÇÃO HUMANA
Texto por Paulo Rebelo
Ainda na semana passada, atendi um grande amigo de meu falecido pai que foi prático da praticagem da bacia amazônica. Tornou-se meu amigo, também.
Como domino o inglês, a partir dele, agente marítimo, turistas e tripulantes passaram a ser atendidos por mim. Ganhei algum dinheiro em dólares. Fiz amizades ultramarinas.
Estava emagrecido, pálido e fraco, apenas sombra do que era. Restavam apenas a educação, respeito e candura ao falar.
Já imaginava q ele tivesse algo grave havia oito meses, mas ele preferia cuidar da esposa, muito doente, que passaria por uma grande cirurgia. Ela teve sucesso.
Há três semanas, através do celular, a filha disse-me q ele estava “estranho” há algum tempo; perdera a alegria de viver e preferia estar sempre no quarto. Perdera o apetite. Perguntei-lhe sobre o seu diabetes e pressão alta. “Estão controladas”, disse. Estranhei. Ninguém perde 30 kg de peso sem uma causa ao longo de oito meses.
Suspeitando do pior, solicitei-lhe exames laboratoriais com urgência. Diagnóstico: grave falência renal. Lamentavelmente, pouco tempo depois, faleceu tendo já iniciado o tratamento da hemodiálise, quando dizia estar bem melhor. Mas, acredito que tenha sido mais um dos casos de “melhora da morte”, diziam os meus velhos professores, em que DEUS nos dá mais um tempo de vida para nos preparar melhor para a morte.
Confesso que chorei.
A minha vida de médico, perdendo seguidos amigos próximos, me deixa reflexivo sobre a frágil condição humana.
Seguramente, ele, faleceu um grande homem.
Então, às vezes, fico a pensar na vida pessoal de cada um de nós, inclusive a minha, dura e solitária, que muitos acreditam ser privilegiada, cuja salvação, não importa nada, é individual, já diz CRISTO; do pobre ao rico, do inculto ao culto, todos carregam uma cruz, uma mais pesada do que a outra. O que torna menos pesarosa a caminhada é: primeiro, a princípio, o amor próprio com a desejada auto estima e auto confiança elevadas na medida certa e em segundo, o amor plantado e colhido pelo indivíduo ao longo da vida, que muitos jamais tiveram ou cuidaram de ter, seguramente, uma falha na defesa do corpo que acaba enfraquecido e vulnerabilizado, susceptível às doenças de toda sorte. Mas, não é só isso.
A vida já é difícil e, para muitos, nos faz, naturalmente, dado à circunstâncias, arredios, agressivos, desconfiados, inibidos defensivos nos impedindo de viver a vida em toda a sua plenitude.
Ao ver pessoas brigando, inclusive, familiares, gente se imiscuindo “de graça” em assuntos ou com pessoas “problemáticas” e adoecendo a olhos nus, sentindo que a causa de muitas manifestações físicas do paciente possa ser, em larga medida, de origem emocional, surgida ou agravada por conflitos pessoas, além de drogas usuais para controle de suas enfermidades orgânicas, são necessários ansiolíticos, tensiolíticos, antidepressivos, hipnóticos, psicoterapia e etc., muitas vezes, “para mantê-los em pé”, isso se aceitarem; eu os incentivo, firmemente, nem sempre fácil, a fazer uma profunda auto análise de suas vidas, uma varredura em seus atos e comportamento, uma verdadeira limpeza em seus relacionamentos, desenvolver a espiritualidade e sobretudo, a FÉ no CRIADOR. Enfim, refletir sobre o propósito de sua existência no mundo.
Na maioria das vezes, dá bons resultados.
Quando não dá resultado? Não dá certo quando o indivíduo mantem-se resoluto; auto didata, presunçoso, pedante e acima de tudo, soberbo, indiferente ou insensível ao sofrimento alheio; o mundo é totalmente seu.
Assim, ao longo de décadas, acompanhando como médico, tanta gente grave e de todas as classes sociais, já perdi a conta de quantas vezes os assisti deprimirem-se e chorar copiosamente feito crianças em busca de “mais uma chance” ou tempo de vida, diante da sua incapacidade física ou mental crônica, da incurabilidade das doenças ou da inevitabilidade da morte, aqueles mesmos seres humanos que se creiam super homens, por motivo insondável, imortais.
Vem à minha cabeça: “ARREPENDEI-VOS, ENQUANTO É TEMPO!”.
E, nos momentos finais de vida, à beira de seu leito hospitalar, naquele instante, estranhamente, tendo eu voltado dois mil anos atrás, vendo homens e mulheres na própria cruz, despidos de todo o orgulho e vaidade e bens que não valem a areia da praia, ao lado de CRISTO, crucificados no Monte Gólota, finalmente, resignados e arrependidos, é como se eu os assistisse ao vivo pedindo a DEUS o perdão e assim, a salvação.
Paulo Rebelo, o escrevente do tempo.