A FORMA ORIGINAL*
A FORMA ORIGINAL
Sou quem sou,
uma inquietante imperfeição mutante.
Um andante na tênue linha do tempo,
Equilibrando-me num cabo de aço no abismo,
cujo vão é interminável
e o vale assustadoramente profundo.
E de braçadas em braçadas fortes contra a maré,
terminar no relento da noite nas areias de praia,
meu nome nela inscrito,
lembrando-me de quem sou;
um náufrago que precisa continuar a nadar.
Assim,
ao fim da longa travessia,
solitário,
quando me olho no espelho,
já não me reconheço mais;
sou outro ser tão diverso na forma e conteúdo que pareço ser um estranho dentro de mim,
alguém completamente diferente em busca da forma original.
Paulo Rebelo, o médico poeta.