A INSATISFAÇÃO*

A INSATISFAÇÃO

Por Paulo Rebelo

Ah!

Essa inquietude 

Ainda há de me matar um dia.

É uma ebulição 

Que me coze aos poucos,

Um esfriviamento

Que não acaba nunca,

Uma eterna insatisfação.

Pois estou sempre com fome 

E a camisa, de tão apertada,

Nunca me cai bem. 

Nunca estou pronto; 

Sempre falta um pedaço,

Uma incompletude,

Um estado perene

De inacabamento 

De minha alma, 

Que parece querer estar 

Em todo lugar, 

Mas não de estar 

Em lugar nenhum.

Se estou aqui, 

tenho que ir embora, 

Se estou lá, 

Tenho que voltar;

Ficar nunca; 

Agitar é minha sina, 

Quando, muitas vezes, 

Desejei apenas o silêncio 

E sossegar.

Assim sou eu:

Um vazio a ser preenchido,

Um tempo a ser consumido.

Paulo Rebelo, o médico poeta.

Na imagem, SÍSIFO, cuja sina é carregar a pedra ao topo da montanha.

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