ABSOLVIÇÃO*
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Acordei no meio da noite.
Estava assustado e suado
E com o coração
A galope,
Mas aliviado.
Por um breve instante,
Pensei que estivesse louco.
Largado à deriva na correnteza de oceanos frios.
E, se naquele momento
Tivesse morrido,
Ainda que incrédulo
Terminar meus dias dessa forma,
Abandonado à própria sorte,
Mas quem sabe fosse melhor assim
Findar o sofrimento eterno
A consciência
Relembrava-me de meus pecados venais
Aos capitais,
Sentenciando-me ao degredo social,
Pena máxima para todos os erros
Que tivesse cometido,
Portanto meus pensamentos inauditos
Eram expostos.
Naquele auto julgamento;
Nada mais estava omitido.
A mente, então, deu-me a palavra final
Para que me defendesse
Das graves acusações contra mim que eu mesmo,
Em solilóquios, produzia
Como que para expiar definitivamente
Os meus pecados e por último,
Pagar minha pena ou para obter o perdão,
Pois jurei a todos que estava arrependido
E, num átimo de lucidez, disse ao juiz:
“Percebi que para continuar são
E ainda ter esperanças para viver,
Precisava me ater aos melhores momentos da minha vida
Quando fui mais feliz”.
Não me recordo de o juiz ter proferido
O veredito.
Lembro que a decisão deve ter levado anos que,
Naquele instante, ocorreu nessa noite.
Então, como a neblina que se desfaz
No alvorecer,
Surgiu a razão, enfim.
Aberta a porta de minha prisão,
Respirei profundamente o ar fresco.
Estava livre!
Assim, ao revisitar as veredas de minha própria vida,
Passei a enxergar o que muitas vezes mal olhava,
Passei a escutar o que antes apenas ouvia
E compreender tudo o que mal entendia,
Parar onde eu só corria,
Semear a paz onde somente havia guerras
E sentir n’alma a minha existência sem culpas;
AMAR A VIDA, FINALMENTE.
(Paulo Rebelo, o médico poeta)
SINOPSE:
Ao longo da vida o ser humano comete muitos erros inconscientes e muitos não tem reparos. Quem não gostaria de ser perdoado? O indivíduo só terá paz interior através do perdão.