ARTISTA*
ARTISTA
Por Paulo Rebelo
Alguém duvida
De nunca ter sido
Um dia artista?
Esqueceste
Quando o mundo
Inteiro te aplaudia
Teus primos,
Pais e família
Até pelas tolices
Que Dizias
E bobagens
Que fazias?
Esqueceste
Dos dias
Das tuas teatrais travessuras
Quando dizias
Que eras um leão
Ou um touro?
Quando
Tu mulher,
Ainda criança,
Te passavas por mãe
Amamentando tuas bonecas em plena infância?
Um “estouro”!
Quando brincavas
De bombeiro com o fogo!
E o mundo
Todo de ti
E contigo ria,
Pois eras tu pura alegria.
Ah! Sim, foste um artista!
Brincávamos de bandido
E polícia!
Eu, também, fui!
Na coxia, beijava a boca das bonecas
De minha irmã mais velha
Como um profissional!
Fui um artista
Fenomenal,
Ao equilibrar-me
De SACI PERERÊ
Numa só perna,
Em cima de uma bicicleta velha
Ou no muro alto
De meu quintal.
Fui artista trapezista,
Quando fui pegar
A bola no fundo do poço,
Acrobata
Quando subi alto
Na mangueira
É caí sem quebrar
Um único osso!
Fui artista
Quando declamei
Versos na escola!
Fiz uma máscara
De monstro a partir
De uma reles sacola.
Passava-me por mendigo
Pedindo p mamãe
“Esmolas”.
Fui artista,
Grande pintor
Quando sujei
As paredes de casa,
Quartos e sala.
Quando desenhava
Garatuchas,
Quando dançava
como Fred Astaire
Na chuva.
Fui artista,
Grande cantor
quando
Cantava BEATLES no banheiro
Enquanto encenava
Elvis Presley
E meu corpo freneticamente
Balançava por inteiro.
Fui um artista,
Grande ator
Quando atuei
Como super-homem
Quando me fingi
Lobisomem
Quando mancava torto
Quando me fingia
De baleado e morto.
Ainda fui artista,
Quando fingia ser amado,
Mesmo sabendo estar
Enganado.
Para não sofrer mais,
Fingi estar imunizado.
Assim, te pergunto:
o que seria do mundo se não houvesse o artista?
O artista dá cor,
Tom
Sabor
Ao mundo,
Quando ele está sem vida,
Sem cor,
Sem amor,
Está imundo.
A loucura
Dos homens é insana,
Descrente e desumana;
Já a loucura
Do artista é sana;
Em doses homeopáticas;
É o pit stop da alma,
A bússola no meio
Da mata,
A saída da vida insensata.
O artista tem algo
Da mais pura inocência
Em meio à maturidade,
Cujo palco é a sapiência,
Onde nele não só representa
Como vive a felicidade.
Aí reside a sua Arte
Aí está sua ciência.
Paulo Rebelo, o médico artista.