MEMÓRIAS DE UM INSONE*
MEMÓRIAS DE UM INSONE
Ao me deitar à noite,
exausto do dia,
é só na aparência que estava só.
Ela estava coladinha em mim;
meu estranho amor,
outrora dor,
a insônia.
Nas primeiras horas,
durmo profundamente,
mas ela me desperta para conversar,
geralmente,
por volta das três ou quatro da manhã.
Quer falar do dia anterior,
daquele filme,
daquela conta,
daquela bronca.
Já nem lembro mais quando ela chegou.
Sem bater na porta,
lembro-me apenas que veio de mansinho.
Disse-me que me faria companhia,
que seria o meu ombro amigo,
que me confortaria.
A única pessoa que me escuta,
quando todos estão ocupados,
dormindo num silêncio sepulcral.
De fato, ela é.
Ela tem todo o tempo do mundo.
Antes eu ficava contrariado.
Lutava contra ela.
Fazia o que minha mãe dizia:
leia um livro
não beba café,
não coma muito no jantar,
tome um banho morno,
Leite quente faz bem.
Assim,
tomei o meu primeiro comprimido de RIVOTRIL,
até que um dia parecia água.
Quando nada mais fazia efeito,
desisti.
Contrariado,
eu a aceitei.
Pouco a pouco fomos ficando íntimos, perdidos na noite a dentro,
revelando segredos,
sonhando acordado,
viajando para distante,
fazendo planos,
ouvindo grilos,
o galo da madrugada,
cigarras,
o farfalhar do vento frio
agitando a copa das árvores,
a chuva no telhado,
assistindo tudo da sacada.
Uma noite,
ela aconchegou-se de vez no meu peito
e tendo eu dito-lhe tudo,
já com a alma lavada,
ela me disse carinhosamente:
Agora feche os olhos,
durma em paz…
Paulo Rebelo, o médico poeta.
Bem eu nobre Poeta, está composição poética escrita com maestria e melancolia em razão do infortúnio que nos acomete em não dormir. Que Deus nos abençoe sempre, aplausos mil e abraços poéticos Marthamaria.
Q bom q temos algo em comum: a insônia! hahahaha