O TÚNEL*
O TÚNEL
(Poema)
A verdadeira palavra
busca fechar a conta com o saldo da vida como positivo,
dar sentido para o quê para muitos já não há nenhum.
É a última gota d’água que mata a sede de justiça,
a saída do labirinto,
do beco é a única área de fuga,
o alfa e o ômega,
a esperança do homem
todavia, o fim para aquele que não acredita na vida eterna,
onde fora da PALAVRA do CRIADOR,
todas as outras palavras sem o amor divino ficam ao relento
e a esmo,
caindo no vazio.
Palavras desperdiçadas,
atiradas ao vento, espalhadas no meio da rua sob olhares indiferentes
ou jogadas
no fundo da gaveta,
inválidas numa rede,
inauditas,
retraídas,
presas na garganta,
esquecidas,
exaurem o corpo,
secam a alma.
Haverá um olhar vago e derradeiro
sem mais desejos puros e verdadeiros,
um coração sem limites e sem rumo,
abúlico,
morrerá por inteiro.
Eis que com o VERBO,
não haverá mais razões para ódio e a dor,
nenhum motivo para bramir palavras de ordem,
brandir bandeiras ideológicas,
nadar contra a maré,
a correria do dia-a-dia,
para cruzar a linha de chegada em primeiro lugar,
sem agonia,
sem ter que enfrentar fila ou lista espera
para partir,
não ter que tomar o último vagão do trem em qualquer estação,
rumo ao lugar que um dia pensou ou evitava pensar que jamais iria.
A ausência do VERBO será sentida até o último suspiro,
a falta preenchida apenas pela espera do apito final,
o apagar da vela,
a último raio de luz,
o fechar dos olhos,
o silêncio derradeiro,
os últimos estertores auscultados
no fim do caminho,
quando as luzes da ribalta apagam-se,
caem as cortinas do palco,
ao final da longa viagem,
repleto de lembranças que se esvaem à distância,
nada mais tem significado ou valor, então, surge a VERDADE pura e cristalina;
é naquele túnel de luz onde, enfim, tudo na sua existência terá adquirido valor e sentido.
Assim sendo, o coração arrependido e perdoado por DEUS viverá para sempre.
Paulo Rebelo, o escrevente do tempo.