ORÁCULO DE DELFOS & EU*

ORÁCULO DE DELFOS

Por Paulo Rebelo

Apesar de médico, cuja profissão escraviza e o emburrece, pois o deixa limitado às quatro paredes do consultório e corredores dos hospitais, privando-o da vida plena, e idade de 67 a, o que considero ainda “jovem”, ciente dessa armadilha, muito cedo, busquei conhecimento além da medicina, mas a partir dela, também.Procuro exercitar ativamente o meu cérebro, lendo, escrevendo, fotografando e assistindo filmes e documentários, haja vista que já está em lento declínio fisiológico. Em meio ao sol que se despede no horizonte, tendo eu cumprido 2/3 de vida, ainda aproveito a luz que me resta nos céus e alegremente brinco levando a serio a vida sob o lema de “DO IT” ou FAÇA A COISA CERTA como no filme do cineasta americano Spike Lee. Se há perda por um lado (o meu pensamento parece estar mais lento, com capacidade mais reduzida e intolerante ao volume, velocidade e complexidade de informações, a experiência de vida acumulada, amealhada a partir de um cabedal de conhecimento inestimável, que me deixa confortável e mais seguro quanto ao meu futuro, principalmente, pelo fato de estar cercado do amor de minha família. Tenho uma sensação de paz e quando peso no fiel da balança meus erros e acertos, acertei muito mais do errei, cujo resultado altamente positivo está na família, trabalho e círculo de amizade. Sou um homem “rico”.A todos digo humildemente, que já vivi 150 anos na face da terra e parece que viverei outros 150 anos, se Deus o permitir. É que vivo através dos olhos dos outros. Semanalmente atendo algumas dezenas de pessoas doentes fisica e mentalmente. É impossível não me apiedar deles e não extrair algo nessa troca de experiências na intensa e profunda relação médico-paciente. Vou absorvendo partes de suas vidas e misturando consciente e inconscientemente com a minha, metaforicamente, sendo o meu consultório como uma espécie de ORÁCULO DE DELFOS na Grécia antiga, onde o enfermo vem em busca de respostas para o seu sofrimento físico e mental, perguntando-me aflito: “e quanto meu futuro, doutor? Ainda tenho cura? A diferença é que o oráculo é seco nas respostas. Assim faz parte do tratamento, além de prescrever-lhe medicamentos, dar-lhe gotas de esperanças. O que mal ele sabe é que eu me curo através de seu tratamento, também.

Paulo Rebelo, médico, escritor e poeta.

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