A LIBERTAÇÃO DO MÉDICO*
A LIBERTAÇÃO DO MÉDICO
(A melhor forma de servir o próximo)🩺❤🩺
Por Paulo Rebelo
A medicina é um sacerdócio todos sabemos. A preparação sacerdotal do médico se inicia a partir do momento em que o jovem decide ser médico. Para ingressar na faculdade, ele terá que estudar muito, e uma vez dentro dela, terá que estudar mais ainda. Não é muito diferente depois de formado; terá que estar atualizado sempre até o final de sua vida, geralmente, por incrível que parece, mais curta que a média da classe social em que vive, o que é um grande paradoxo. Entende-se; é que cuida dos outros, mas pouco, mal ou nada de si. O pior é que tem consciência disso. Não costuma a procurar colega seu, e quando o faz é porque o problema fugiu completamente ao seu controle. Ademais, é o pior paciente quando adoece: é rebelde.Começa aí o seu drama existencial; torna-se um ermitão em meio a própria família, familiares, amigos e colegas, sociedade em geral, abandonando tudo, exceto o paciente com a qual a maioria dos médicos tem um silencioso “pacto de sangue”: dedicação exclusiva e eterna. Abdica da família e demais aspectos da vida, quer pessoal e social. Campo e praia, clubes, esporte, lazer e entretenimento são artigos incomuns e de luxo. Quando tira férias, estas são curtas ou aproveita para fazer algum um curso…médico. Sua folga é aos domingos no almoço, comendo com a família no shopping center ou bebendo uns chopes e comendo churrasco com os poucos amigos. Nem se fala mais do Clube dos Médicos. Haja plantões e chamadas telefonicas. O seu celular é a sua secretária. Anos a fio, pessoalmente, passei por isso. O mesmo, geralmente, não ocorre com a mulher quando médica; pragmática, a prioridade é a família que está sempre em primeiro lugar; seu drama é diferente; como toda mulher moderna ela sofre silenciosamente para conciliar trabalho e família.Ao longo dessa jornada, a vida toda o médico esteve dentro dos hospitais ou restrito às quatro paredes do consultório. Há baixas: adoece, envelhece e morre mais cedo. Separa-se da conjuge mais. Participa pouco ou nada do desenvolvimento do filho. É o caminho para conflitos familiares. Até sabe disso, e por isso sofre calado. Não procura ajuda psico-comportamental. É portador de elevado nível de estresse, ansiedade e depressão. Alguns recorrem à auto medicação com drogas ansiolíticas, tensiolíticas e hipnóticas para suportar sua dor física, que esconde atrás da “fantasia de superhomem”. Nisso, o médico é um grande ator. Finge não ter nada. Paga um preço enorme por isso. Lamentavelmente, alguns recorrem ao álcool em excesso e “drogas recreativas”.Acontece que tamanha solidão e clausura durante muitos anos acaba por endurecer e emburrecer o médico. A terminologia é dura. Explico: torna-se sério, reservado e circunspecto. É um intrínseco mecanismo defesa da personalidade (inconsciente). Ainda que seja inteligente, técnicamente habilitado e bem sucedido, como não tem uma vida social, a sua consciência fica limitada, afetando o intelecto e a psiquê. A maioria não é bilingue, poucos têm um atividade esportiva, tocam algum instrumento musical ou têm algum hobby. A cultura restringi-se a visita como turista às grandes cidades do Brasil e do mundo. Conhece New York e Paris, mas nada de história. Não tem tempo para ler um livro. A sua espiritualidade pouco se desenvolve, sobretudo religiosamente, todavia nem tudo está perdido; nunca é tarde para recomeçar.Assim diria que há saidas para o auto isolamento médico e todas as consequências advindas disso. A expansão de sua consciência critica pode ser adquirida e cultivada através da espiritualidade, sobretudo, religiosa, principalmente, participando de atividades sociais desenvolvidas pela igreja cristã, que presta um inestimável serviço espiritual e humanitário, mas também através de praticas de voluntariado nas inúmeras ONGS ou do laicismo religioso contido aberta ou veladamente em instituições sérias como o LIONS CLUB, ROTARY CLUB e a MAÇONARIA, onde a fraternidade é presente.Através de seu engajamento em uma dessas inúmeras práticas, a finalidade, portanto, seria que ele buscasse dar um equilibrio entre a medicina e a sua vida pessoal; que ele fizesse a auto descoberta, dando-lhe um sentido mais amplo de pertencimento ao mundo muito além da medicina, para que cresça muito mais como ser humano, que ao final se reverte para toda humanidade. Nesse sentido, que ele reconquiste sua família para que ela volte a acreditar nele. É a melhor forma de servir o próximo e a si mesmo.💐💐💐Paulo Rebelo, médico.