O LUTO*

O LUTO

Outro dia morreu um amigo,
Anteontem, mais outro.
Noutro dia,
Um conhecido,
Na semana passada,
Um desconhecido.

E assim os dias foram passando
E percebi,
Que a cada um que se ia,
Eu mesmo morria aos poucos.

Então, pela primeira vez,
Tive medo;
No dia vindouro,
Pensei: sou o próximo
Da fila.

Foi asim, também,
No mês passado
E, estranho, no retrasado,
Quando, à noite,
Acordei sobressaltado,
Pois, outro querido
Morreu dormindo, sozinho
No frio da madrugada.

Morreu, também, o Chico,
Irmão de Maria,
Esposo de Cesidia.

E de tanto morrer gente,
É quando mais chorei a cântaros,
Hoje, fui eu quem morreu,
Pois não deu tempo nem da dor
Virar saudade.

Paulo Rebelo, o médico poeta.

Tributo aos inúmeros familiares e queridos amigos que perdi, em especial, Roni Rabelo.

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