ACORRENTADO*
ACORRENTADO
Às vezes,
A impressão que tenho
É que já nasci
Endividado,
Prisioneiro de um destino,
Único caminho a seguir
Acorrentado.
Não sei bem o porquê.
Assim teria começado
O meu desejo de partir
Pelo mundo,
Correr que nem lebre,
De fugir para longe
Para não ser caçado,
Onde não seria cobrado,
Quando não teria que pagar
Nenhum preço,
Seria um homem livre.
De fato,
Um ex-escravo,
Alforriado.
Jamais pedi para nascer,
Mas já que DEUS disse:
“NASÇA!”,
E agora que estou aqui,
Não é tão ruim assim;
Poderia ser melhor,
Mas não depende
Só de mim
E sim, da roda do tempo,
De meus sonhos
E sentimentos,
Da ausência de dores,
Dos favoráveis ventos,
Açoitando as velas
De meus pensamentos.
Haveria de ocorrer
Como no computador,
Um “BOOT” dentro de mim,
Deletando obsessões,
Reiniciar tudo
Como “RESSETAR”
Minha vida,
Apagando minhas desilusões.
Minha alma,
Então, seria mais leve
E fagueira
Como a pluma.
Tornar-se-ia voadora,
Liberta,
Ilusoriamente,
Imorredoura!
Paulo Rebelo, o médico poeta.