A DOR E O ESCRITOR*
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Ao amigo-A,
A minha fonte de inspiração é a dor humana algures e alhures, e que ocorre em mim, também.
O sofrimento exerce fascínio sobre o homem, sendo fonte de inefáveis pulsões e arte universal. Não é diferente em mim.
Assim, me identifico com quem sofre, pois a sua dor é como a minha: física, quer orgânica quer mental, às vezes, intensa e mortal; uma ligada a outra e que parecem traiçoeiras e infindáveis, e se desejo não sofrer mais, o que é inevitável, eis que morremos aos poucos, enquanto vivemos, é natural que me identifique com “irmãos em dor”; numa simbiose, meu sentimento se transfere para quem sofre. Afinal, sou médico e humano.
Há uma certa aflição em mim, haja vista que não tenho o poder ilimitado da cura do sofrimento humano, todavia tento, posto que não há limites para o amor nem dor aí envolvidos.
Há muito altruísmo nas minhas ações, mas também, creia-me, sem pudor, te revelo: paradoxalmente, egotismo, eu, resignado pelo poder e onipresença da dor, estranhamente, o sofrimento do mundo “alivia” a minha dor e me fortalece.
Ao tratar a dor alheia, trato a minha própria dor.
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Paulo Rebelo, o médico poeta da Linha do Equador.
P.S. Apenas assim, carregando tanta dor própria e alheia, resignado e algo resiliente, pude exercer a medicina com um misto de estoicismo, sabedoria e amor fraternal.
THE DOCTOR by Samuel Fildes.